O projeto Bicicletas com Asas restaura bicicletas e entrega-as a quem precisa delas para se deslocar ao trabalho ou ao local onde estuda.
Depois de ficarmos a conhecer as histórias de Sellou Jallow e Alghassimou Bah, dois imigrantes que ganharam asas para realizarem os seus sonhos, ouvimos na Renascença Júlio Santos, que trabalha no Centro de Promoção Social da PRODAC, em Marvila.
O responsável é um dos obreiros da Cicloficina Crescente de Marvila, uma oficina comunitária que já entregou 13 bicicletas como parte da iniciativa.
Como é que iniciou toda esta ideia?
A ideia deste projeto nasceu na Cicloficina Crescente de Marvila, que existe desde 2018. É uma oficina comunitária, não é um equipamento da Santa Casa. Nós somos apenas um dos parceiros. E naquele espaço, juntamente com outras entidades e outros voluntários da comunidade, começámos a construir uma cicloficina.
Começámos a recuperar as várias bicicletas que fomos emprestando, que fomos utilizando em diferentes iniciativas. E, partindo dessa oficina, começaram a existir vários projetos em torno das bicicletas. Os Bicicletas com Asas é um deles.
E a quem é que se destinam estas bicicletas? Como é que se avalia se as pessoas de facto precisam ou não precisam desta bicicleta?
Quando começámos a recuperar as bicicletas, uma questão que tivemos foi: como é que conseguimos que o seu uso tenha o máximo de impacto possível? E percebemos que as pessoas podem recorrer às bicicletas de diferentes formas, de forma lúdica, de forma mais utilitária. E há casos em que as bicicletas podem, de facto, ajudar a dar um impulso na vida das pessoas que, por alguma razão, possam não ter acesso a uma.
Então, o foco deste projeto é exatamente esse: conseguirmos identificar pessoas para quem, por alguma razão, não conseguem acesso a uma bicicleta, mas que essa utilização pode ser transformadora para si. E isto pode vir de várias formas
Como é que uma bicicleta pode ser transformadora?
De tantas maneiras. Encontrámos situações de pessoas para quem a bicicleta passou a ser o meio de transporte prioritário, que nalguns casos permitiu fazer algumas poupanças económicas que podem ser muito significativas, sobretudo quando os orçamentos são mais baratos.
As bicicletas podem ser um meio muito eficaz, não só do ponto de vista prático, mas também do ponto de vista lúdico, do bem estar etc. Nós temos pessoas que recorreram a este projeto, por exemplo, mais por uma questão de algum isolamento. Temos o caso de um jovem, por exemplo, que estava numa situação mais isolada, com poucos contactos, e que a bicicleta ajudou, juntamente com outros amigos, a integrar um grupo de pertença que se tornou muito saudável para ele.
Temos outros que utilizaram isto como uma ferramenta de trabalho, para iniciarem um trabalho a nível de distribuição de comida. Temos outros para quem o acesso à bicicleta foi a possibilidade de compatibilizar um trabalho com outras práticas desportivas que têm e que, sem esta ferramenta, não conseguiriam ter este acesso. E muitas vezes nós precisamos de dar o primeiro empurrão para que a pessoa possa experimentar se isso funciona.
Literalmente um empurrão.
Sim, e procuramos fazer isto também numa lógica de sustentabilidade em que pensamos em muito material que está abandonado, que está cheio de pó e a que nós queremos dar asas.
E, por falar em dar asas, como é que podemos entregar bicicletas que já não usamos?
A forma mais fácil é entrar em contacto com a Cicloficina Crescente de Marvila, através das várias plataformas das redes sociais (Instagram, Facebook) e nós, se tivermos condições de ir buscar a algum local, podemos ir buscar esse material ou então essas pessoas podem levar os equipamentos até Marvila. Nós gostamos de aceitar tudo, pensando sempre numa lógica de rede, de reaproveitamento.
Nós muitas vezes recebemos bicicletas que são apenas doadoras de órgãos, e também já recebemos outras que estão prontas a serem utilizadas e a terem impacto na vida de alguém.
Entrevista conduzida por: Teresa Oliveira