O ministro das Relações Exteriores da Ucrânia, Dmytro Kuleba, discursou, esta quarta-feira, numa sessão especial de emergência na Assembleia Geral da ONU que assinala um ano da invasão russa na Ucrânia, onde pediu apoio a um projeto de resolução que irá a votos e que enfatiza “a necessidade de se alcançar, o mais rápido possível, uma paz abrangente, justa e duradoura” na Ucrânia, de acordo com a Carta fundadora da ONU.
“Em vez de nos escondermos atrás da máscara da neutralidade, vamos escolher o lado da Carta da ONU e do direito internacional. Nunca na história recente a linha entre o bem e o mal foi tão clara. Um país apenas quer viver em paz e o outro quer matar e destruir”, defendeu Kuleba.
“Há alguém nesta sala disposto a doar um metro quadrado do seu território para um vizinho sanguinário? Todos nós sabemos a resposta. Não há nenhum. E a Ucrânia é um de vocês. O mundo afogar-se-à se permitirmos a mudança de fronteiras pela força sob o disfarce de conveniência política ou simpatia pelo agressor”, frisou o ministro ucraniano.
A resolução em causa foi redigida pela Ucrânia e aliados, incluindo a União Europeia, e deverá ser votada hoje em Assembleia Geral, onde se espera um amplo apoio.
Após o discurso de Kuleba, foi a vez do embaixador da Rússia junto à ONU, Vasily Nebenzya, apelar no sentido oposto, avaliando que esta resolução não passa de uma nova tentativa de “propaganda anti-Rússia conduzida pelos ocidentais”.
“Começar a contar a história a partir do dia 24 de 2022 [data da invasão da Ucrânia] e ignorar tudo o que veio antes é uma tentativa intencional do Ocidente de confundir as pessoas e esconder as verdadeiras razões do conflito”, advogou Nebenzya.
“Em outras palavras, iniciamos uma operação militar especial para interromper a guerra de oito anos de Kiev contra o povo de Donetsk e Lugansk”, argumentou o diplomata russo.
Perante uma vasta audiência, que incluiu ministros de vários países, Nebenzya acusou ainda o Ocidente de “hipocrisia” e de não ser possível acreditar nos apelos de paz de vários representantes ocidentais, uma vez que têm “transformado a Ucrânia numa plataforma militar” próxima às suas fronteiras.
Vasily Nebenzya argumentou ainda ser cada vez mais difícil para o campo ocidental mobilizar os Estados-membros “em apoio à cruzada contra a Rússia”, apelando ao corpo diplomático presente na sessão que se oponha ao projeto de resolução que irá a votos.
Face à resolução que será votada, a Bielorrússia, aliada mais próxima de Moscovo, propôs uma série de emendas que serão votadas primeiramente.
Essas emendas, apoiadas por Nebenzya, pedem a exclusão da linguagem referente à “invasão em grande escala da Ucrânia”, à “agressão da Federação Russa”, e da exigência de que a Rússia retire imediatamente todas as suas tropas do território ucraniano.
Também pedem o início das negociações de paz, exortam os países “a absterem-se de enviar armas para a zona de conflito” e pedem aos Estados-membros da ONU que abordem as causas profundas do conflito.
Nebenzya alertou que se a resolução apresentada pela Ucrânia e aliados – e já co-patrocinada por quase 70 países – não for alterada de acordo com as propostas da Bielorrússia, “não contribuirá para a paz” porque vai expressar o ponto de vista unilateral do Ocidente: “a soma dos Estados Unidos, União Europeia e NATO”, disse.
Contudo, os países aliados da Ucrânia, como os Estados Unidos, usaram o palco da Assembleia Geral para pedir precisamente a rejeição dessas emendas e a adoção da versão original do texto.
Resta saber se a resolução patrocinada pela União Europeia consegue igualar ou superar os 143 votos, o maior apoio recebido pela Ucrânia numa resolução votada em outubro passado.