A Conferência Episcopal Portuguesa declarou esta quinta-feira a suspensão das missas com presença de fiéis a partir de sábado dia 23, perante o aumento acentuado de casos de Covid-19 em Portugal nas últimas semanas.
A decisão foi tomada unilateralmente, uma vez que no decreto do estado de emergência que vigora atualmente não foi interrompido o direito à liberdade religiosa e de culto, como aconteceu durante o primeiro confinamento, na primavera de 2020.
Cabe assim a cada comunidade religiosa decidir o que fazer e a maioria das minorias religiosas em Portugal já tinha tomado decisões idênticas antes até do que os bispos católicos.
Da parte da Aliança Evangélica Portuguesa, o pastor e médico António Calaím explica que já há uma semana que a organização que dirige tinha pedido às igrejas que evitem as celebrações com a presença de fiéis, optando antes pela transmissão das celebrações online.
“Já tínhamos incentivado as pessoas a não ficarem à porta das igrejas, a não andarem aos magotes. Na minha comunidade, por exemplo, costumamos ter mais de 100 fiéis, com as medidas impostas por causa da pandemia esse número desceu para 40 ou 50 por culto e agora não são mais do que uma dúzia, com o resto a assistir online”, explica António Calaím.
Contudo, o dirigente recorda que a Aliança Evangélica não é um equivalente à CEP, ou seja, não tem poder de impor medidas às igrejas que a ela pertencem. “Há sempre meia dúzia de recalcitrantes, mas em geral a adesão tem sido grande. Tendem a ser comunidades mais pequenas, que têm mais dificuldade em adotar os meios tecnológicos. Mas as Igrejas de média ou grande dimensão têm acatado a nossa recomendação”.
Entre os evangélicos também têm havido casos de infeção e de mortes por causa do coronavírus, incluindo de pastores, mas até ao momento há apenas registo de um surto ligado diretamente às igrejas. “Foi já há vários meses. Houve um surto ligado a uma comunidade que fez uma festa de encerramento de uma igreja. Era a despedida de um lugar especial, histórico, e o surto deixou a comunidade muitíssimo triste”.
Orações só com imã e muezzin
Da parte da comunidade muçulmana as orações com a presença de fiéis estão suspensas quase desde o início da pandemia.
Khalid Jamal, dirigente da Comunidade Islâmica de Lisboa, explica à Renascença que fora um breve período a maioria das mesquitas nunca chegou a reabrir. “Na Mesquita Central de Lisboa as orações contam com a presença apenas do imã e do muezzin, que faz o chamamento à oração. As outras mesquitas do país tendem a seguir o exemplo da mesquita central, mas em geral todos têm agido de forma muito cautelosa”, diz.
Uma das preocupações entre a comunidade muçulmana é a forma como são tratados os que morrem deste vírus. A DGS recomenda que os corpos das vítimas mortais da Covid sejam cremados, mas essa prática é absolutamente proibida segundo as regras islâmicas.
Khalid Jamal diz que felizmente na esmagadora maioria dos casos em Portugal isso não tem sido um problema e as autoridades têm respeitado as orientações religiosas dos fiéis muçulmanos que morrem por causa da doença.
Portugal está a passar neste momento um dos piores momentos da pandemia desde que o vírus chegou ao país, em março de 2020, com mais de 200 mortos por dia e mais de uma dúzia de milhares de novos casos por dia.