A Região de Turismo do Porto e Norte de Portugal foi uma das que mais cresceu nos últimos anos, por isso o presidente da entidade regional, Luís Pedro Martins, não hesita em chamar-lhe “Região Sensação”. Mas admite que ainda há muito a fazer para levar os turistas mais além do Porto, Gaia ou Matosinhos.
No painel “Crescer a Norte”, no último dia do Congresso da Associação da Hotelaria de Portugal (AHP), que decorreu em Viana do Castelo, diversos empresários do setor defenderam um maior envolvimento e investimento de entidades públicas e privadas e também das populações para mostrar e fazer “experenciar” o que de melhor a região tem: mesmo o mais inesperado, como as nortadas de Caminha.
Mais conteúdos únicos e irrepetíveis, precisam-se, para acrescentar um valor que se prolonga muito para além da estada em Portugal e na Região do Porto e Norte.
“Durante muitos anos o Turismo de Portugal investiu na promoção dos destinos Algarve, Madeira e Lisboa. Mais recentemente, mudou e passou a promover mais o Centro, o Alentejo e o Norte, assinalou o presidente da Entidade Regional de Turismo do Porto e Norte.
Foi o que determinou o crescimento destas regiões. O ano passado chegaram 4,5 milhões de turistas, mas três quartos ficaram em alojamentos do Porto, Gaia ou Matosinhos, 21% foram para o Minho e só 4,5% ficaram no Douro. A Trás-os-Montes chegaram 2,5% desses turistas.
Por isso, Luís Pedro Martins não dúvida que há um longo caminho para percorrer. O Porto alavancou o Norte, agora temos que fazer o que o Turismo de Portugal fez com as regiões”.
Obras no aeroporto do Porto ajudam. Aposta na ferrovia é absolutamente estratégica para o Douro
Trinta companhias aéreas operam no Aeroporto Francisco Sá Carneiro para 98 mercados (87 da Europa, 3 de África, 4 da América do Norte, 3 da América do Sul e 1 da Ásia).
Vai também beneficiar de obras (como o de Lisboa), que o presidente da Região de Turismo agradece, lembrando que esta infraestrutura pode ir até ao limite de 40 milhões de passageiros, “uma oportunidade para se tornar um hub”. Tem uma área de influência de 5 milhões de pessoas e é a referência para o Norte e Galiza. “É maior que os três aeroportos da Galiza e quando abre uma nova rota, fecham duas ou três naqueles aeroportos espanhóis”.
Mas para Luís Pedro Martins, a aposta na ferrovia é absolutamente estratégica para a distribuição dos fluxos de turistas a partir do Porto para o resto da Região e para o Douro, em particular. “É preciso valorizar a Linha do Douro para que os turistas se percam no Douro. E com uma ligação a Barca d’Alva, de 40 milhões de euros, poderíamos atrair também os espanhóis”. Em discussão com a homóloga de Castilla y Leon (revelou) está a valorização de quatro patrimónios mundiais: o Douro, o Douro Vinhateiro, as pinturas rupestres do Vale do Côa e Salamanca.
Conteúdos únicos, irrepetíveis e até inesperados, mas com valor acrescido precisam do envolvimento de todos
Os turistas procuram cada vez mais experiências em diversas áreas. O enoturismo é uma delas. João Gomes da Silva, da Sogrape, considera que é uma ferramenta fundamental da marca, com o aproveitamento dos ativos que contribui para a rentabilização do negócio. É o que acontece com o hostel criado dentro das Caves Sandeman, explorado em parceria com a The Independent Collective, “um fator de diferenciação do Porto e Gaia”.
Por outro lado, o saborear o vinho é uma das coisas que acrescenta valor na experiência de visita às caves. E os turistas estão dispostos a pagar preços muito mais elevados por uma garrafa que mais tarde, já em casa, vão associar a uma experiência prazeirosa, muito agradável.
João Gomes da Silva frisa que é preciso apostar em “experiências difíceis de replicar e vendê-las a um preço que valorize o que se está a fazer: não se consegue replicar o sabor de um determinado vinho do Douro ou um Alvarinho. Por isso, não vale a pena atrair as massas para lhes vender barato porque nem sequer os recursos serão remunerados”.
Também Mário Ferreira, diretor-executivo da Douro Azul desafiou as aldeias e proprietários de quintas ou famílias a criarem produtos atrativos, com conteúdos gastronómicos ou outras experiências que atraiam os turistas e os levem a valorizar os produtos. E referiu mesmo o exemplo de uma família em que os diversos herdeiros, em vez de fazerem partilhas, resolveram unir-se, fazer as remodelações necessárias na quinta, passando a receber, um ano depois, vários grupos para o seu espaço e que são lá levados nos barcos de cruzeiros no Douro.
Há sempre um testo para cada panela e é preciso continuar a pedalar a bicicleta
A Nortada é um problema para Caminha? O presidente da autarquia, Miguel Alves, diz que não. Descobriram que há muitos alemães que gostam da nortada e que procuram a região por isso mesmo. “E temos que virar a lógica, ver o produto que temos e valorizá-lo porque há sempre quem o procure, há sempre um testo para cada panela”.
Para o autarca, parece que há gente que ainda não percebeu a importância do turismo e “é preciso que percebam que todos ganham: para os que chegam, mas também aqueles que lá vivem todo o ano, o turismo é uma indústria que valoriza e cria emprego. Miguel Alves revelou que em Caminha, nos últimos cinco anos, o número de hóspedes cresceu 87%, os proveitos da hotelaria 112% e o número de camas aumentou 25%. “Mas temos que continuar a pedalar a bicicleta, em todas as regiões. E no norte do Norte, há muito potencial de crescimento”.
Nessa linha, o presidente da Região de Turismo revelou que nos últimos 9 meses, todas as fun trip tiveram como destino territórios fora do Porto e Gaia, porque são os que mais precisam. E referiu o Wineshow, que está a ser produzido e que vai ter impacto em 88 milhões de espetadores de 165 canais de televisão.
A captação de eventos também é importante. José Maria Costa, presidente da Câmara de Viana do Castelo anunciou a realização de 9 congressos no próximo ano, mas admite que na sua cidade ainda há poucos hotéis para as necessidades. Por enquanto, os hóspedes são distribuídos pelas unidades das Comunidade Intermunicipal, mas reforçou o apelo à continuação do investimento hoteleiro nesta cidade minhota.
Números do Norte
- Entre 2008 e 2017, o Porto e Norte foi a segunda região de turismo que mais contribuiu para o crescimento do número de hóspedes (+20%)
- A terceira região que mais contribuiu para o crescimento das dormidas em Portugal
- A segunda região que mais contribuiu para o crescimento do RevPAR
- Este ano já recebeu mais de 4,479 milhões de hóspedes, garantiram 8,343 milhões de dormidas
- Proveitos continuam a crescer: em setembro, mais 12% do que nom mesmo mês do ano passado, atingindo os 17 milhões de euros
- Em 2018 a receita total foi de 560 milhões de euros mas este ano deverá atingir os 700 milhões
- Vinte mil unidades de negócio na Região de Turismo do Porto e Norte: hotéis, alojamento local, animação turística e agências de viagens