O bastonário da Ordem dos Médicos (OM) revelou esta terça-feira que todos os médicos internos de Ginecologia e Obstetrícia do Serviço Nacional de Saúde (SNS) já ultrapassaram as 150 horas anuais de trabalho extraordinário.
Miguel Guimarães esteve reunido hoje com médicos internos de Ginecologia e Obstetrícia, para discutir e analisar a crise atual enfrentada pela especialidade, cujos profissionais apontam a falta de condições de trabalho e formativas.
De acordo com o bastonário, estão nesta situação os “258 especialistas” desta área especifica num universo “de 10.700 médicos internos do país”.
No final do encontro de trabalho, onde estiveram 20 dos 110 médicos que escreveram uma carta aberta à ministra da Saúde, Miguel Guimarães contou que uma das especialistas presente lhe disse que no seu hospital já todos os internos tinham feito, até agora, “mais de 650 horas extraordinárias”.
O responsável teme que a situação venha piorar no decorrer do mês de setembro.
“É verdade que a urgência de Obstetrícia e Ginecologia está com problemas, não só em agosto, já tinha em julho, em junho, há alguns meses, e eu temo que, pelo facto de o Ministério da Saúde ainda não ter tomado decisões importantes nesta área, que setembro possa ser pior do que agosto e, se calhar, o resto do ano não corra assim tão bem”, afirmou aos jornalistas.
Os internos de Ginecologia e Obstetrícia continuam sem resposta ao pedido de reunião que fizeram à ministra Marta Temido, não tendo, sequer, recebido confirmação de que a carta aberta foi rececionada.
No documento, os especialistas reiteram a “indisponibilidade de fazer mais de 150 horas extraordinárias por ano”, e colocaram minutas de escusa de responsabilidade quando consideraram “não estarem assegurados os mínimos adequados nas escalas de urgência”.
Miguel Guimarães mostra-se preocupado com este cenário, tanto mais que a forma de protesto dos médicos, traduz-se na sua saída do SNS.
“Os médicos em vez de estarem a protestar, a fazer manifestações ou a fazer greves, estão a sair do Serviço Nacional de Saúde. E, o facto de haver, neste momento, muitos médicos, especialistas com experiência e jovens especialistas a saírem do SNS, é o sinal de alerta mais forte que existe. Isto devia deixar toda a gente preocupada”, argumenta.
Bastonário lamenta que Portugal não consiga “fixar médicos no SNS”
Entre outras preocupações, foi também destacada a formação dos
internos desta especialidade que, face a situação atual “está a ser posta em
causa”, uma vez que estes profissionais são “sistematicamente” chamados para
outros serviços, nomeadamente, para a urgência geral.
“Eles são constantemente ‘desviados’ para fazerem cada vez mais
serviço de urgência, seja o normal, mais as horas extraordinárias, o que
significa que a formação que têm que fazer sobre um conjunto de exames e
formação especifica, seja no âmbito da consulta externa ou até do bloco
operatório, são situações complexas, uma vez que chegam ao fim do internato sem
fazer a formação que realmente queriam fazer”, denúncia, o bastonário.
Em Portugal, a formação médica é, de resto, reconhecida como uma
das melhores da Europa, por isso, há cada vez mais vagas para o internato, mais
de duas mil por ano, segundo, Miguel Guimarães.
“Se fizermos as contas áquilo que é a capacidade formativa ‘per
capita’, Portugal está à frente da maior parte dos países europeus, mas a
verdade é que, depois, não conseguimos fixar os médicos no SNS”, lamenta.
Depois dos médicos internos, na próxima segunda-feira, o
responsável da OM, reúne com os profissionais da Medicina Interna.