Em 1980, Ronald Reagan derrotou Jimmy Carter nas eleições presidenciais dos EUA, impedindo a reeleição do democrata para o seu segundo mandato. No último debate televisivo entre os dois, o candidato republicano desequilibrou as coisas a seu favor. Olhando diretamente para a câmara, dialogou com os eleitores americanos, dizendo-lhes que, no dia da eleição, quando estivessem na cabine de voto, deveriam considerar uma pergunta: “Estão melhor agora do que há quatro anos?” Se a resposta fosse “sim”, a opção de voto era natural; se a resposta fosse “não” - se, sobretudo, achassem que o curso seguido nos últimos quatro anos não era o que queriam para os próximos quatro anos - então a opção de voto era óbvia. Ou seja: deveriam escolher entre o “mesmo” ou a “mudança”. Foi também esse o argumento que os conselheiros de Bill Clinton lhe sugeriram que explorasse, em 1992, na situação inversa - a do candidato democrata que queria, e conseguiu, derrotar o incumbente republicano, George Bush. Tudo simples: querem continuar como estão, ou querem outro rumo?
Saltemos para o Portugal de 2024. Os pequenos partidos, os partidos que ainda são pequenos e o que surge inchado pelo protesto inorgânico que me desculpem, mas o mandamento de Reagan ou Clinton deveria ser o guia da nossa (de todos) escolha, quando estivermos na cabine de voto, no domingo. A campanha eleitoral foi longa e, como sempre, mais ruidosa do que esclarecedora. Mais do que votarmos com base nos retratos que eles (os oito) nos fizeram do país, melhor seria que votássemos de acordo com a nossa própria consciência, a partir de uma simples, mas absolutamente esclarecedora questão: Portugal está hoje melhor do que estava em 2022, ou em 2019, ou em 2015? Mais: Portugal trilhou um caminho de futuro desde que, em 1995, o socialismo se tornou o modo dominante de ser e fazer política, só interrompido por aflições criadas por esse mesmo socialismo? Se o eleitor achar que sim, pode votar no “mesmo”, nas fórmulas já conhecidas – sabendo que poderá dar ao país o governo mais radical desde 1975, dado o perfil do novo líder do PS e o à-vontade com que ele montará uma nova geringonça, com o BE e com quem mais queira aparecer para a “festa”. Se, pelo contrário, o eleitor honestamente reparar como está hoje a saúde e a educação, a justiça e a corrupção, a administração interna e a segurança, o atendimento público, a emigração dos jovens, os apertos dos adultos e o desânimo dos mais velhos, deverá constatar que é necessária uma mudança e votar em conformidade.
Este é um tempo de voto crítico, realista e útil. Quem quer mais do mesmo, tem de votar Pedro Nuno Santos, porque “só o PS faz melhor do que o PS”. O lema foi ufanamente proclamado por António Costa. Os socialistas deliciaram-se com ele, mas deveriam ter-se envergonhado - porque se só o PS pode agora fazer o que o PS não fez, por que razão não fez o PS o que o PS acha que terá de ser feito, e quem nos garante que este PS, que é o PS de sempre, fará no futuro o que, pelos vistos, não fez até agora, com maioria absoluta ou em geringonça? Em contraste, quem quer a mudança, só pode votar em Luís Montenegro. Qualquer aritmética de blocos a calcular no dia 11 de março dependerá dos resultados do dia 10 de março. Se quem pode protagonizar a mudança tranquila terminar o dia 10 com uma vitória clara, e se a democracia (ainda) repousa na obrigação de eles escutarem o que nós lhes dizemos, os sete (em rigor os dois mais cinco) que não ganharem saberão o que têm de fazer. Mais do mesmo, ou outro rumo? Estamos hoje melhor ou pior do que estávamos? Saibamos todos responder, no domingo, à mais simples e mais decisiva escolha ao nosso alcance.