O escritor e investigador Richard Zenith foi finalista do prémio Pulitzer, na categoria de Biografia, com “Pessoa. Uma Biografia”, foi hoje anunciado.
O prémio, naquela categoria, foi conquistado pelo artista afro-americano Winfred Rembert (1945-2021), com o livro "Chasing Me to My Grave: An Artist's Memoir of the Jim Crow South”, tendo Janice B. Nimura sido a outra finalista com a obra "The Doctors Blackwell: How Two Pioneering Sisters Brought Medicine to Women and Women to Medicine".
Publicada, em inglês, em julho do ano passado, a biografia de Fernando Pessoa por Richard Zenith, que há décadas se debruça sobre a obra do poeta português, foi amplamente elogiada pela crítica internacional e incluída em várias listas de melhores livros do ano da imprensa de língua inglesa.
A versão portuguesa vai ser colocada à venda este mês, numa edição da Quetzal.
“Relativamente desconhecido em vida, Pessoa parecia destinado ao esquecimento literário quando o arco da sua vida após a morte se curvou, de maneira súbita e improvável, em direção à grandeza, com a descoberta de 25 mil documentos inéditos num grande baú de madeira. Baseando-se neste vasto arquivo de fontes, bem como em cartas familiares nunca publicadas, e astutamente colocando a vida do poeta contra as correntes nacionalistas da história europeia do século XX, Zenith por fim revela as verdadeiras profundezas da fértil imaginação de Pessoa e o seu génio literário”, pode ler-se na sinopse da obra publicada pela Liveright.
A editora norte-americana recordou que “da mesma forma que o Nobel José Saramago trouxe um único heterónimo à vida em ‘O Ano da Morte de Ricardo Reis’, Zenith traça as histórias de praticamente todas as personalidades imaginadas de Pessoa, demonstrando como eram projeções, ‘spin-offs’ ou metamorfoses do próprio Pessoa”.
Na britânica New Statesman, em agosto do ano passado, o filósofo John Gray não poupou elogios ao trabalho de Zenith: “O retrato de Pessoa e da sua vida é mais do que uma obra-prima da biografia literária. Com mais de mil páginas, nem uma delas é desperdiçada, um ‘tour de force’ da história cultural. […] Ao iluminar esta figura evasiva, Zenith criou um trabalho que é, em alguns aspetos, tão espantoso como os do próprio Pessoa”.
Um outro especialista em biografias, o norte-americano Benjamin Moser, escrevia no New York Times, em julho do ano passado, que “Pessoa, que teve poucas pessoas íntimas em vida, teve sorte em encontrar [em Zenith] este amigo póstumo”.
O escritor irlandês Colm Tóibín, na London Review of Books, em agosto de 2021, questionava: “Se nada de algum interesse alguma vez aconteceu a Pessoa, certamente que uma biografia deveria ser breve. Como poderá Zenith justificar escrever um livro que ultrapassa as mil páginas?”
A resposta pode ser encontrada no “posicionamento de Pessoa no contexto do que estava a acontecer em Lisboa na altura”.
“O retrato que emerge de Pessoa é o de uma figura solitária que, ainda assim, estava intensamente envolvida nas ‘cliques’ literárias e movimentos, com revistas, planeadas ou publicadas. De certa forma, o livro de Zenith torna Pessoa alguém menos autogerador e mais um estranho produto da vida portuguesa, a sua lassitude ganhando forma de uma incapacidade nacional de fazer muito, a sua energia escondida tendo origem em algo secreto e poderoso na cidade de Lisboa”, escreveu Tóibín, lembrando que Zenith também enfatizou o lado político de Fernando Pessoa.
Vencedor do Prémio Pessoa em 2012, o tradutor e crítico literário Richard Zenith, sediado em Lisboa, já havia conquistado um prémio PEN por Poesia Traduzida com “Fernando Pessoa and Co.: Selected Poems".