Hong Kong mergulhou numa nova crise política, este domingo. Centenas de milhares de pessoas saíram à rua para protestar contra a lei da extradição, que permite que suspeitos de crimes possam ser extraditados e julgados na China continental.
Após sete horas de marcha, os organizadores estimam que cerca de 1 milhão e 30 mil pessoas tenham participado no protesto, ultrapassando em muito a histórica manifestação de 2003, que uniu cerca de 500 mil pessoas nas ruas, para desafiar com sucesso a intenção do governo de implementar leis de segurança nacional mais rígidas.
Contrariando as entidades organizadoras, um porta-voz da polícia afirmou, em declarações à agência Reuters, que a estimativa era de 240 mil participantes "no auge" do protesto.
A marcha iniciou-se cinco horas antes do previsto e ocupou as quatro faixas da avenida principal do parque Vitória.
Frases como "sem extradição da China, sem lei do mal" ecoaram pelas ruas da cidade. Vários manifestantes carregaram guarda-chuvas amarelos, um símbolo dos protestos pró-democracia que sufocaram as principais ruas da cidade por 79 dias em 2014.
A ex-colônia britânica foi entregue ao governo chinês em 1997, com a garantias de autonomia e várias liberdades, incluindo um sistema legal separado, que muitos diplomatas e líderes empresariais acreditam ser o ativo remanescente mais forte da cidade.
A ampla oposição ao projeto apresentado no domingo ocorre numa altura em que são apresentadas uma série de medidas do governo para aprofundar os laços entre o sul da China continental e Hong Kong.
Os opositores do projeto questionam a justiça e transparência do sistema judiciário chinês e manifestam preocupação com as forças de segurança chinesas responsáveis pelas acusações.
O plano do executivo chinês também já foi criticado pelo último governador de Hong Kong, o britânico Chris Patten, que na semana passada afirmou tratar-se de um “terrível revés” para a reputação daquele território.
Alguns manifestantes exibiram cartazes com o rosto da dirigente do executivo de Hong Kong, Carrie Lam, apelando à sua demissão. Lam alterou algumas emendas, mas recusou opor-se à lei, afirmando que é fundamental para corrigir uma “lacuna” no ordenamento jurídico de Hong Kong.
A dirigente política ainda não comentou a manifestação ou o futuro do projeto, que deverá ser debatido no Conselho Legislativo na próxima quarta-feira e possivelmente aprovado até o final de junho.
"Hong Kong inteiro está contra ela", gritaram manifestantes, de acordo com relatos da agência Reuters.
Apesar de ter sido um protesto pacífico, foram ainda registados alguns desacatos.
Polícias antimotim armados com cassetetes e capacetes intervieram nalguns momentos, enquanto a emissora estatal RTHK informava que as autoridades começavam a recorrer a gás pimenta para controlar manifestantes que tentavam cortar algumas estradas.
A manifestação encerrou semanas de crescente indignação nas comunidades diplomáticas e jurídicas que temem a corrosão da autonomia legal de Hong Kong e a dificuldade de garantir proteções judiciais básicas na China continental.