O secretário executivo da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) disse esta quarta-feira que a organização está a "fazer o que Moçambique pediu", procurando sensibilizar a comunidade internacional para o problema de Cabo Delgado e a necessidade de reforço da cooperação.
"Estamos a fazer o que Moçambique nos pede e pediu, que é a envidar esforços, de forma a sensibilizar, por um lado, os órgãos públicos dos estados-membros para a necessidade de reforçarem ainda mais a sua colaboração bilateral com Moçambique nas áreas prioritárias, em função da natureza dos ataques. Depois a sensibilizar também a própria comunidade internacional para aquilo que se está a passar" em Cabo Delgado, afirmou em declarações à Lusa o embaixador Francisco Ribeiro Telles.
Neste contexto, o diplomata, que falava à Lusa, após uma reunião com parlamentares socialistas, na qual um dos assuntos em debate foram os ataques em Cabo Delgado, adiantou: "ainda hoje falei com a União Europeia para trocarmos impressões sobre o que a UE está a fazer. E conto fazê-lo também, nos próximos tempos, com a União Africana, a SADC [Comunidade de Desenvolvimento da África Austral] e as Nações Unidas".
Segundo Ribeiro Telles, a União Europeia deu-lhe conta do que está previsto, "e que obviamente está de acordo com o que a presidência [do Conselho Europeu] portuguesa tem transmitido sobre o assunto".
"Vai haver um reforço da ajuda humanitária, vai haver um reforço da ajuda ao desenvolvimento e, possivelmente, na sequência daquilo que Portugal já anunciou, na formação de forças especiais de Moçambique, também a União Europeia irá atuar nesse sentido", acrescentou.
Os parlamentares socialistas da Comissão de Negócios Estrangeiros manifestaram hoje ao secretário executivo da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) "preocupação" com a situação de violência no norte de Moçambique e com os "direitos humanos na Guiné-Bissau".
Segundo um comunicado enviado à Lusa, após o encontro com o Embaixador Francisco Ribeiro Telles, os deputados socialistas afirmam que "manifestaram a sua preocupação com algumas notícias que evidenciam atropelos aos direitos humanos e ao Estado de Direito" na Guiné-Bissau.
"Falamos sobre a Guiné-Bissau, tomei nota do que me foi transmitido e, obviamente que não deixarei de reportar, no seu devido lugar, isto é, no Comité de Concertação Permanente [reunião de embaixadores em Lisboa dos nove Estados-membros da CPLP], a audiência que tive com grupo parlamentar do PS, não apenas em relação à Guiné-Bissau, mas em relação aquilo que me foi questionado".
Ribeiro Telles admitiu, porém que lhe falaram da "questão dos Direitos Humanos na Guiné-Bissau".
Na nota emitida após o encontro com o secretário Executivo da CPLP, os socialistas adiantam que manifestaram igualmente "preocupação com a situação no norte de Moçambique, na província de Cabo Delgado, onde os ataques frequentes têm criado uma enorme devastação e feito aumentar o número de deslocados, que já rondam atualmente os 700 mil".
Na reunião foram abordados ainda alguns dos temas que farão parte "da próxima Cimeira de Luanda, prevista para 17 de julho, particularmente sobre a aprovação do acordo de mobilidade no espaço da CPLP, que poderá ocorrer com base num modelo de cooperações reforçadas, a exemplo do que existe na União Europeia", adiantam no comunicado.
A província de Cabo Delgado, no norte de Moçambique, é desde há cerca de três anos alvo de ataques terroristas e o último aconteceu no passado dia 24, em Palma, em que dezenas de civis foram mortos, segundo o Ministério da Defesa moçambicano.
A violência está a provocar uma crise humanitária com quase 700 mil deslocados, segundo agências da ONU, e mais de duas mil mortes, segundo uma contabilidade feita pela Lusa.
O movimento terrorista Estado Islâmico reivindicou na segunda-feira o controlo da vila de Palma, junto à fronteira com a Tanzânia e a cerca de 25 quilómetros do projeto de gás natural da multinacional Total.
A CPLP integra os seguintes Estados-membros: Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Guiné Equatorial, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe e Timor-Leste.