O Presidente de Angola confirmou esta sexta-feira que não se vai recandidatar. José Eduardo dos Santos deixa o cargo ao fim de 38 anos no poder.
José Eduardo dos Santos, de 74 anos, não vai a votos nas eleições previstas para Agosto deste ano, mas vai continuar na presidência do partido MPLA.
A decisão foi anunciada por José Eduardo dos Santos no discurso de abertura da reunião do Comité Central do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA), que decorre em Luanda.
"Em 2012, em eleições gerais, fui eleito Presidente da República e empossado para cumprir um mandato que nos termos da Constituição da República termina em 2017. Assim, eu tomei a decisão de deixar a vida política activa em 2018", disse o Presidente, depois de passar em revista o seu percurso no MPLA e na liderança de Angola.
O candidato do MPLA às eleições presidenciais deste ano é o vice-presidente do partido e ministro da Defesa, João Lourenço.
Portugal assinala "melhores padrões internacionais"
A saída de cena de José Eduardo dos Santos é um “sinal de que Angola segue os melhores padrões internacionais", afirmou o ministro português dos Negócios Estrangeiros. Augusto Santos Silva falava no final da cerimónia de apresentação da estratégia da Acção Cultural Externa, em parceria com o Ministério da Cultura.
A eurodeputada socialista Ana Gomes defende hoje que o anúncio do Presidente de Angola deve ser acompanhado por um processo de credibilização das próximas eleições gerais no país.
"O importante é que José Eduardo dos Santos assegure desde já que as eleições têm condições de credibilidade", disse Ana Gomes, em declarações à agência Lusa.
"Era bom que [Luanda] se apressasse a fazer convites à União Europeia e União Africana para haver observação internacional às eleições, sob pena de haver confusão violenta", sublinha Ana Gomes.
Human Rights Watch pede eleições transparentes
Já organização não-governamental Human Rights Watch (HRW) espera que o processo de transição em Angola seja pacífico e sem violações dos direitos humanos.
"Este anúncio de hoje marca oficialmente o início de um processo de transição que esperamos que seja pacífico e não marcado por violações de direitos humanos, como acontece em muitos outros locais pelo mundo quando há este tipo de transições", disse à agência Lusa Zenaida Machado, responsável da organização para Angola e Moçambique.
A activista espera que “as eleições sejam livres, transparentes e justas”, que todos os todos os candidatos concorram "de igual forma" e que "todos os angolanos, independentemente da sua filiação política", tenham as mesmas oportunidades de se registarem, de fazerem campanha e de depositarem o seu boletim de voto em Agosto.
Para Darias Jonker, do grupo de consultoria política Eurasia Group, José Eduardo dos Santos vai manter a sua influências, mas agora nos bastidores.
“Ele implementou um plano para que a sua família controlasse as principais instituições financeiras. Nós vemos sinais de que ele vai conservar algum poder atrás do trono”, afirma Darias Jonker, citado pela agência Reuters.
José Eduardo dos Santos é o segundo líder há mais tempo no poder, só ultrapassado pelo Presidente da Guiné Equatorial, Teodoro Obiang.