O jovem, de 29 anos, que morreu depois de esperar três dias por uma cirurgia que era urgente, não foi a primeira vítima do facto de o Hospital de São José não ter equipa de neurocirurgia preparada para lidar com casos de aneurismas rotos ao fim-de-semana.
Segundo o “Expresso”, desde 2014 já morreram outras quatro pessoas pelas mesmas razões. Fonte do hospital, citada pelo semanário, diz que os outros casos só não deram a mesma polémica que o de David Duarte porque se tratava de pessoas “menos jovens, com familiares menos proactivos, tendo, por isso, passado despercebidos”.
O caso mais recente terá sido ainda este ano, de uma sexagenária. Em todas as situações havia fortes possibilidades de sobreviver em caso de intervenção imediata, diz a mesma fonte.
O caso de David, que foi internado numa sexta-feira ao fim do dia com diagnóstico de ruptura de aneurisma no cérebro e indicação de que tinha de ser operado com urgência, mas teve de esperar até segunda-feira para ser operado porque a equipa daquele hospital não faz fins-de-semana desde que o anterior Governo cortou nas horas extra, é também tema em “Diário de Notícias”. Segundo o jornal, tanto o Estado como os próprios médicos do São José podem vir a ser julgados por homicídio.
A procuradoria-geral da República abriu um inquérito e caso se prove que a falta de escala de médicos foi a causa, pode-se justificar uma acusação de negligência médica, omissão de auxílio ou homicídio por negligência.
Durante os três dias em que David Duarte esteve internado não se equacionou a possibilidade de chamar a equipa médica especializada para o operar, nem de pedir ajuda a outro hospital, uma vez que segundo os especialistas a transferência para um hospital que tivesse equipa de prevenção era considerado demasiado arriscado.
Um Banif de cortes na saúde
Independentemente das responsabilidades individuais, a raiz deste problema está nos cortes na saúde, que levaram enfermeiros e médicos da equipa especializada a recusar estar de prevenção ao fim-de-semana. Este dado ganha relevância à luz da revelação, feita esta quinta-feira pelo jornal "i", de que a troika cortou na saúde cerca de 1,5 mil milhões de euros, a mesma quantia que foi injectada no Banif, apesar de esta ter vindo posteriormente a entrar em colapso à mesma, obrigando a um resgate estatal.
O Conselho de Administração do Hospital de São José abriu um inquérito para apurar o que realmente aconteceu.
A tutela anunciou que pediu à administração do Centro Hospitalar de Lisboa Central e à Inspecção-Geral das Actividades em Saúde para apurarem eventuais responsabilidades do Hospital de São José na morte de um doente.