A substituição das paragens por toda a Lisboa começou no mês de agosto e tem vindo a ser alargada gradualmente a mais partes da cidade. Serão instalados dois mil novos abrigos (paragens) e 900 mupis, muitos deles digitais, ao mesmo tempo que serão removidos os 1.750 equipamentos atualmente existentes.
Os abrigos são mais modernos e com funcionalidades extra: muitos vão ter tomadas USB, hotspot de Wi-Fi livre num raio mínimo de 50 metros e sistemas de informação em tempo real, de horários, tempos de espera, destino das carreiras, avisos e alterações de percurso.
Mas até que assim seja, decorre a substituição das paragens antigas. E há três empresas envolvidas no processo: a CME, que em nome da E-Redes desliga a paragem da rede elétrica e prepara o terreno para a retirada da infraestrutura. Depois vem a empresa que tinha o anterior contrato, que leva as paragens antigas. Nessa altura, a JCDecaux coloca as novas paragens e depois, regressa a CME, para as ligar à rede elétrica e deixar tudo como estava antes.
Só que, pelo meio, há responsabilidades que têm sido descuradas.
Faltam "estaleiros de obra, a delimitação da zona de intervenção, a recolha das pedras da calçada para sacos próprios, fora do alcance de qualquer transeunte", denuncia o presidente da Junta de Freguesia de Benfica, Ricardo Marques.
"Foram mais que muitos os procedimentos que não foram cumpridos", enfatiza.
Para além do não cumprimento destes procedimentos, houve até descuidos pouco aceitáveis: "Ainda hoje os nossos fiscais identificaram zonas em que foram substituídas lajetas por cimento. Isso não vai acontecer. Portanto, a obrigação da JCDecaux é repor á situação anterior à intervenção."
O caso que justifica, na opinião do autarca, que se avance para uma reforma administrativa 2.0, para evitar situações destas.,
"A Câmara, nós sabemos, não tem meios e dificilmente terá para fiscalizar a cidade toda e estas intervenções", mas se a responsabilidade da fiscalização de obras em espaço público, de empresas como a CME e outras, passasse para as freguesias, isso possibilitaria à cidade de Lisboa "ter muito mais fiscalização e cumprimento escrupuloso das boas normas nestas intervenções".
Acresce a tudo isto o timing do ano, que também não foi o ideal.
"Escolher uma intervenção destas numa altura de inverno e de chuva mostra uma falta de bom senso. Na semana passada foi confrangedor ver estabelecimentos comerciais invadidos por utilizadores dos autocarros porque não tinham onde se abrigar".
No café de Anabela Lourenço, na Estrada de Benfica, tem sido recorrente.
"Ontem, a seguir ao almoço, choveu imenso. E eu tinha a esplanada toda cheia, por causa da chuva. As pessoas queriam vir para o café e não podiam, porque a entrada estava cheia de pessoas que deviam estar na paragem do autocarro, mas que estavam à porta do café".
Não está à porta, debaixo da lona que cobre a esplanada, porque caem apenas umas pingas, e o capuz dos casacos chega para as encomendas. Gisela Soares está com a filha pela mão, para a levar à escola. Ambas esperam pelo autocarro ao lado de barreiras de plástico a delimitar o local onde existe apenas uma estrutura metálica sem teto, que será nos próximos dias a nova paragem.
Pelo chão, pedras da calçada onde alguns tropeçam,
"Além de ser mau, porque as pessoas podem cair aqui - como aqui há dias, quando uma senhora aqui caiu - é incomodativo, porque começa a chover torrencialmente e nós com crianças. Não faz sentido nenhum, em pleno Inverno, estarem a fazer isto".
Numa paragem em renovação, junto ao Centro Comercial Fonte Nova, Fátima Santos, também acha que teria sentido que estas intervenções tivessem ocorrido noutra altura.
"Lamento é que demorem tanto tempo a fazer as obras. Há paragens na Estrada de Benfica que demoraram sensivelmente um mês".
Na fila para o mesmo autocarro está José Silva.
"O que se está a registar aqui é quase por toda a cidade de Lisboa. Eles estão a modificar as paragens todas. Se for para melhor, tudo bem".
Natália Casimiro garante que sim, que será para melhor. A diretora de Património e Relações Institucionais da JCDecaux assegura que a intervenção que está a ser feita vai uniformizar e melhorar os atuais abrigos. E que o objetivo "é minimizar o impacto no quotidiano da vida das pessoas, porque de facto, é muito constrangedor haver três mil pontos de obras, que é o que vai acontecer".
Admite ainda "situações desagradáveis" provocadas por algumas empresas parceiras, mas garante que estão a ser tomadas providências para que as situações não se repitam.
Quanto ao timing da realização destas obras, garante que não havia muito a fazer.
"Todos os momentos do ano são complicados. A maior preocupação de não fazer no Verão prende-se com as festas da cidade de Lisboa, em que há festas por todos os bairros da cidade. A Primavera e o Verão são alturas em que há mais turistas e mais gente na rua. E por isso, fazer este tipo de obras nessa altura é péssimo".