A Ordem dos Médicos adverte para a necessidade de o Governo acelerar o processo de aquisição de vacinas contra a gripe sazonal. Numa entrevista à Renascença, o bastonário Miguel Guimarães considera fundamental antecipar a compra, num contexto de uma eventual segunda vaga de Covid-19.
“É fundamental que nessa altura tenhamos os nossos cidadãos protegidos, pelo menos contra a gripe sazonal”, diz Miguel Guimarães, que assinala o facto de este ano a vacina ter tido “uma eficácia tremenda”.
O bastonário considera “importante fazermos as reservas atempadamente, porque, se não o fizermos, podemos mais uma vez ir atrás do prejuízo”. Segundo afirma, a Ordem tem “conhecimento, através da indústria farmacêutica, de que está a haver uma procura muito grande de vacinas da gripe”.
Na opinião do entidade reguladora da atividade médica, “este é o momento de Portugal fazer a sua reserva porque daqui a uns meses pode ser tarde demais”.
Porquê vacinar contra a gripe sazonal?
Se a vacina da chamada gripe normal já era uma necessidade para milhares de portugueses, a coexistência com uma eventual segunda vaga de Covid-19 acentua a sua importância. Segundo o bastonário da Ordem dos Médicos, há agora uma dupla vantagem na vacinação.
“Ter menos pessoas doentes, garantindo um menor número de pessoas afetadas pela gripe sazonal ou, sendo afetadas, que tenham sintomas mínimos, diminuindo as necessidades de internamento e o risco de entupimento das urgências", por um lado.
Por outro, dada a semelhança de alguns sintomas entre a gripe sazonal e a Covid-19, tendo os cidadãos vacinados com a gripe a dúvida é menor, pode “permitir a redução dos testes para deteção do novo coronavírus”, complementa.
Informação sobre doentes COVID-19 não está a ser facultada
As escolas médicas e a Ordem dos Médicos continuam sem acesso à informação clínica e epidemiológica dos doentes Covid-19. O bastonário Miguel Guimarães continua sem perceber porquê.
“É uma boa questão para se colocar à diretora-geral de saúde à ministra da Saúde. Em qualquer país da Europa, essas informações clínicas anónimas são disponibilizadas aos médicos e à comunidade científica”, diz o bastonário.
Miguel Guimarães esclarece, ainda, que “se queremos evoluir no estudo desta doença, se queremos perceber quais os fatores de risco e como os minimizar, no fundo, se queremos que o combate à doença seja mais eficaz, não basta que essa informação seja apenas acessível aos médicos e pessoas que trabalham com a Direção-Geral da Saúde ou com o Ministério da Saúde”.
Miguel Guimarães acentua que o facto de estarem a ser realizados estudos noutros países, não invalida a necessidade de se estudar o caso português.
“Portugal também precisa de perceber o que está a acontecer com a sua população, para eventualmente fazer sugestões adicionais nalgumas áreas específicas. A grande massa crítica e científica está cá fora, na sociedade civil; é importante que as pessoas que se dedicam à investigação e ao estudo tenham acesso a esse tipo de dados”.
“Passaporte imunológico” será importante para retomar a confiança
Nesta entrevista à Renascença, o bastonário da Ordem dos Médicos assinala a importância de se “perceber qual o grau de imunidade que existe na população”, o que, na sua forma de ver, “pode ter reflexos enormes na retoma da confiança”.
Trata-se de identificar que tipo e qual o valor dos anticorpos adquiridos pelos cidadãos, de forma a perceber a sua eficácia e contributo para a perda de transmissibilidade do novo coronavírus. Miguel Guimarães, tal como a generalidade da classe médica, sabe que a Covid-19 é um problema que continua por resolver e que existe a séria possibilidade de uma segunda vaga.
Apesar do desconhecimento que continua a caraterizar esta pandemia, o bastonário da Ordem dos Médicos acredita que “o calor pode ter algum efeito na perda de força, até porque a radiação ultravioleta destrói este tipo de vírus”, mas mais tarde “voltaremos a ter uma situação diferente”, pelo que, diz a concluir, “é importante delinear já uma estratégia para constituir o nosso passaporte imunológico, que será diferente de país para país”.