A poluição atmosférica “custa” a cada cidadão europeu residente em cidades 1.276 euros por ano, de acordo com um estudo da Aliança Europeia de Saúde Pública (EPHA na sigla original).
O estudo, segundo os responsáveis o maior do género, chegou ao valor médio quantificando o valor monetário das mortes prematuras, dos tratamentos médicos, dos dias de trabalho perdidos e de outros custos de saúde causados pelos três poluentes atmosféricos que causam mais doenças e mortes, partículas em suspensão (PM), ozono (O₃) e dióxido de azoto (NO₂).
No documento divulgado a EPHA salienta que o problema da má qualidade do ar se faz sentir especialmente nas cidades, onde vivem dois terços dos europeus, e diz que dois terços das cidades violam as normas de ar limpo estabelecidas pela Organização Mundial da Saúde (OMS).
O estudo examinou 432 cidades de todos os países da União Europeia (UE) e ainda do Reino Unido, Noruega e Suíça. Somados, os custos da poluição atmosférica para os residentes nessas cidades chegam a 166 mil milhões de euros por ano, cerca de 385 milhões de euros, em média, por cidade.
Os habitantes das cidades maiores e mais caras têm custos mais elevados devido à densidade populacional, rendimentos e despesas mais elevados. No entanto, cidades da Europa central e de leste estão no topo da tabela de impacto, já que apesar de níveis de rendimento mais baixos a poluição atmosférica é “particularmente má”.
Por exemplo, de acordo com o estudo, um residente de Bucareste “paga” 3.004 euros devido à poluição, enquanto um habitante de Santa Cruz de Tenerife paga 382.
Em relação a Portugal, a poluição atmosférica tem um custo para um habitante de Lisboa de 1.159 euros e custa anualmente à cidade 635 milhões de euros. No Porto as perdas são menores, passando a 950 euros anuais por pessoa e custos de 226 milhões de euros para a cidade. Em Faro os valores são ainda mais baixos, 775 euros e 50 milhões de euros, por pessoa e pela cidade, respetivamente, e em Coimbra a poluição tem um prejuízo per capita de 598 euros, mas o prejuízo anual para a cidade é de 85 milhões, mais do que em Faro.
Na lista das cidades examinadas em Portugal estão ainda o Funchal, com danos causados pela poluição avaliados em 67 milhões de euros por ano, com um valor per capita de 603 euros, Setúbal, com danos de 115 milhões, 954 euros por habitante da cidade, e Sintra, com danos de 236 milhões e um valor individual de 625 euros.
Em Milão, por exemplo, a poluição tem um custo per capita de 2.843 euros, e em Paris de 1.602 euros. Em Madrid os custos são de 1.069 euros, menos do que em Lisboa, embora os danos causados pela poluição do ar ultrapassem os 3,3 mil milhões de euros na capital espanhola.
No documento agora divulgado, a EPHA lembra, citando a Agência Europeia do Ambiente (AEA), que a poluição atmosférica é a causa número um de mortes prematuras por fatores ambientais na Europa.
Num documento divulgado na última quinta-feira a AEA afirma que o ar da Europa é hoje mais limpo do que há meio século, mas acrescenta que ainda assim as avaliações anuais da qualidade do ar na Europa “mostram consistentemente que a poluição atmosférica continua a representar um perigo para a saúde humana e para o ambiente”.
E alerta que os níveis de poluição atmosférica em muitas das cidades europeias ainda excedem tanto os limites legais da UE como as diretrizes da OMS para a proteção da saúde humana. E estima que todos os anos cerca de 400.000 europeus morrem prematuramente devido à má qualidade do ar.
Além da perda de vidas, ainda de acordo com a AEA, a poluição tem “impactos económicos consideráveis”, aumentando os custos na saúde e reduzindo a produtividade. E prejudica o solo, as culturas, as florestas, os lagos e os rios, e as próprias casas, pontes e outras infraestruturas.
Os transportes são identificados como uma importante fonte de poluição do ar urbano, mas “mesmo pequenas mudanças nos hábitos de transporte e nas políticas das cidades podem fazer uma diferença substancial nos custos”, diz a EPHA.
A organização apela a políticas governamentais para reduzir os transportes baseados no petróleo, com alternativas mais sustentáveis, como andar a pé, de bicicleta ou em veículos limpos.