As autoridades brasileiras deram esta terça-feira o seu primeiro golpe contra a mineração ilegal em terras indígenas, confiscando dezenas de aviões utilizados para estas atividades, acusadas de causarem a crise humanitária que afeta os Yanomami.
Pelo menos 24 aviões apreendidos pelas forças de segurança estavam retidos no pátio da Polícia Federal em Boa Vista, capital do estado amazónico de Roraima.
Fontes policiais, citadas pela agência Efe, disseram que outras aeronaves foram destruídas na operação policial lançada contra mineiros ilegais, sem especificar o número de aeronaves.
A operação teve início após o Presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, ter assinado um decreto autorizando a detenção de qualquer aeronave suspeita de tráfico de mercadorias ilegais na zona, que faz fronteira com a Venezuela.
Lula da Silva instruiu que o transporte aéreo e fluvial fosse proibido nas terras Yanomami, as maiores do Brasil, onde vivem cerca de 27 mil indígenas e onde se estima que haja cerca de 20 mil mineiros invasores.
A exploração mineira ilegal expandiu-se rapidamente nos últimos anos na região, encorajada pelo antigo presidente brasileiro Jair Bolsonaro (2019-2022), que defendeu a liberalização das atividades em terras indígenas, o que é proibido pela Constituição do Brasil.
O Governo brasileiro decretou o estado de emergência sanitária nas terras Yanomami há 10 dias, quando Lula da Silva visitou a área para ver a situação de abandono em que vivem os povos indígenas da região.
Cerca de 21 mil Yanomami, de uma população de 27 mil, foram infetados com malária, muitos sofrem de envenenamento por metais pesados utilizados pelos mineiros ilegais, e um grande número sofre de subnutrição.
O Ministério dos Povos Indígenas estima que "pelo menos 570" crianças Yanomami morreram nos últimos anos "devido à contaminação por mercúrio, desnutrição e fome".
Desde o início da operação de emergência, dezenas de pessoas foram retiradas de helicóptero para a cidade Boa Vista, onde foi instalado um hospital de campo.
Em paralelo, a força aérea distribuiu toneladas de alimentos às aldeias utilizando aviões militares de carga ou helicópteros.
O Supremo Tribunal Federal (STF) ordenou na segunda-feira que o Ministério Público investigasse a possível responsabilidade do Governo de Bolsonaro pela situação dos Yanomami, sob suspeita de um crime de "genocídio".