São Jorge. Idosos com sinais de stress devido a incerteza quanto ao futuro
27-03-2022 - 09:00
 • João Cunha em São Jorge

Idosos institucionalizados em instituições de Velas foram transferidos para a Pousada da Juventude de Calheta, onde se sentem bem acolhidos. Permanecem todos juntos, tal qual estivessem nas instituições habituais, mas começam a dar sinais de algum stress, devido à incerteza quanto ao futuro.

Utentes da Casa de Repouso de Velas e do Centro de Dia do Instituto de Santa Catarina, na Urzelina, foram transferidos, há já uns dias, para as instalações da Pousada da Juventude em Calheta. Na sala logo à entrada, dezenas de idosos, a maioria com mais de 80 anos: uns jogam às cartas, outros brincam com as assistentes e outros há cuja família deles se esqueceu. Ali estão, dementes e indiferentes ao que se passa à sua volta.

Rosa Maria é das mais agitadas. Era utente do centro de dia e passava a noite no Instituto. Foi custoso deixar aquelas instalações, porque “não gostamos de deixar a nossa casa. Mas aqui estamos bem, tratam-nos bem”.

Admite que não se vai esquecer do início desta crise sismo-vulcânica. “Senti muitos, muitos tremores. Um estava eu nas Velas, no primeiro que se sentiu. Estava sentada, levantei-me e comecei a ouvir um barulho... E o chão parecia que saia debaixo do pé”, recorda assustada.

Quando é que tudo isto acaba? Não sabe. Mas tem uma certeza. “Se fosse para não acontecer nada a gente tinha lá ficado. Não tinha vindo para aqui”.

Na mesa ao lado, próximo de duas senhoras em cadeiras de rodas, está Manuel Silveira, viúvo e com os filhos “emigrados nas Américas”. Estava no Centro de Saúde da Calheta, mas teve de dar espaço a quem precisava de mais cuidados de saúde do que ele, que não pode ficar sozinho e que tem de passar a noite ligado a uma máquina de oxigénio.

Diz estar apenas à espera de duas coisas. “A notícia boa e a notícia má. Mas a minha esperança é que a notícia boa ganhe à notícia má.”

Juntar idosos de duas instituições podia dar origem a alguns problemas. Mas Maria Odília, uma das muitas funcionárias das instituições originárias destes idosos, o problema não é a convivência.

“É a incerteza de não saberem o que vai acontecer” em relação a esta crise sismo-vulcânica. Uma incerteza que lhes causa stress, ansiedade e preocupação face ao futuro.

São Jorge contabilizou cerca de 12.700 sismos desde o início desta crise, em 19 de março, mais do dobro de todos os sismos registados no arquipélago desde 2021.

A ilha está com o nível de alerta vulcânico V4, de um total de cinco níveis, o que significa “possibilidade real de erupção”.