Mais lixo e emissões. Como Portugal trata o ambiente em 5 indicadores
05-06-2022 - 08:30
 • Renascença

Os portugueses são tímidos a reciclar, mas cada um produz 513 quilos de lixo por ano. Também as emissões de gases com efeito de estufa têm vindo a aumentar nas últimas décadas. Dados reunidos pela Pordata neste Dia Mundial do Ambiente.

Aumento dos gases de efeito de estufa e da temperatura, mais produção de lixo e menos consumo de petróleo em Portugal. Estes são alguns dados avançados pela Pordata por ocasião do Dia Mundial do Ambiente, que se assinala este domingo.

Celebrado desde 1972, o Dia Mundial do Ambiente é um momento para refletir, fazer um ponto da situação ambiental vivida em Portugal e para sensibilizar a população para a necessidade adotar hábitos mais "verdes".

A Pordata, da Fundação Francisco Manuel dos Santos, divulga um conjunto de dados em cinco áreas, que ajudam a entender como é que o país evoluiu e onde deve melhorar na proteção do meio ambiente.

1 - Muito lixo, pouca reciclagem

A área dos Resíduos é um dos indicadores trabalhados pela Portada. Os resíduos urbanos continuam a ser um crescente problema. De acordo com os dados estatísticos da Pordata, em 2020 Portugal produziu “cerca de 5,3 milhões de toneladas de resíduos urbanos”.

Contas feitas, cada habitante produziu, em média, “513 quilos durante o ano, ou seja, 1,4 quilos por dia”. Os valores são preocupantes e têm vindo sempre a crescer nas últimas décadas. Como termo de comparação em relação à década 90 do século XX, a produção de lixo aumentou 50%.

Em relação aos restantes países da União Europeia, Portugal ainda não está no melhor caminho. O principal destino do lixo dos 27 países da UE é a reciclagem (30%), no entanto, em Portugal esse valor é de apenas 13%.

Um total de 54% do lixo produzido pelos portugueses vai parar ao aterro sanitário, enquanto na UE esse valor é de 23%.

Apesar do registo estar longe da média europeia, Portugal tem vindo a melhorar, uma vez que em 1995 o ponto de partida era bastante diferente: “90% do lixo em Portugal ia para aterro, ao passo que na UE27 esse valor era de 65%. A reciclagem, por sua vez, era de 1% em Portugal quando na UE27 era já de 12%”, indica a Pordata.

2 - Mais emissões e calor

Clima e Emissões de Gases com Efeito de Estufa (GEE) é outra temática abordada pela Portada neste Dia Mundial do Ambiente. Aqui, os dados revelam um aumento gradual da temperatura média do ar nas últimas décadas.

Em Lisboa, na década de 60 a temperatura média registada era de 16,8ºC, tendo este valor subido um grau, para 17,8º, em 2021.

No Porto a diferença é ligeiramente maior, enquanto que na década de 70 a temperatura média era de 13,9ºC, o ano passado registou o valor de 15,3ºC.

O Funchal, na Madeira, sofreu o maior aumento da temperatura média do ar: dois graus entre a década de 60 e o ano de 2021. Passou de 18,6 para 20,6 graus.

Também as emissões de gases com efeito de estufa têm vindo a aumentar. Em 2019, Portugal registou um aumento de 13% face a 1990, o que faz com que seja o quarto país da UE27 a registar a maior subida.

O principal emissor dos gases presentes na atmosfera são os transportes, que representam um total de 28% das emissões. O setor tem emitido mais gases desde 2013, algo que acontece não só em Portugal como na UE.

“Portugal registou, assim, em 2019 um aumento de 12%, face a 2013, nas emissões de GEE a partir dos transportes, após uma trajetória decrescente registada desde 2002”, de acordo com os dados da Pordata.

O país definiu como meta cortar para metade as emissões nos próximos oito anos, até 2030, e ser neutro em carbono em 2050.

3 - Mais renováveis, menos petróleo

A quase totalidade da energia produzida em Portugal é proveniente de fontes renováveis, mas na parte do consumo predomina o petróleo e os seus derivados (cada vez menos).

“Em 2020 as energias renováveis representaram 98% do total de energia produzida em Portugal”, afirma a Pordata no seu estudo estatístico, dado que coloca o país muito acima da média de 41% nos 27 países da UE.

No ano seguinte, Portugal deixou de produzir definitivamente de usar carvão na produção de eletricidade, graças ao fim dessa atividade pela Central Termoelétrica do Pego.

A fonte de energia mais consumida em Portugal, em 2020, foi o petróleo, com 41% do total.

Apesar deste valor, o consumo final de petróleo tem vindo a decrescer desde 1998, ano em que 61% da energia consumida provinha desta mesma fonte.

Em oposição, o consumo do gás, das energias renováveis e elétricas tem aumentado desde 2001.

A Pordata revela ainda que no período de pandemia, tanto em 2019 como em 2020, as famílias portuguesas foram as segundas da UE27 que menos consumiram energia.

4 - Água canalizada 99% segura

Segundo a Pordata, 99% da água canalizada em Portugal “era segura para consumir em 2020”.

Uma evolução bastante positiva, tendo em conta que, há 30 anos, apenas metade da água que saía das torneiras era considerada segura para consumo.


Durante o ano de 2019, em Portugal, gastaram-se quase 673 mil milhões de litros de água. O consumo de água em Portugal mantém-se desde 2012 entre os 628 a 683 mil milhões.

No plano do saneamento, entre os 22 países da UE com praias costeiras e interiores, Portugal registou qualidade excelente em 93% das águas balneares, um valor que supera a média europeia em 5% e que coloca o país em 9.º lugar na tabela europeia.

5 - Metade do país é floresta

A Pordata olhou também para a mancha verde neste Dia Mundial do Ambiente. Em 2018, metade do território português era “ocupado por sistemas florestais”.

Num contexto de alterações climáticas e de abandono das zonas rurais, os incêndios são uma ameaça sazonal para o país.

Na fita do tempo dos últimos 40 anos, 2017 foi o que contemplou mais área ardida - mais de 500 mil hectares e 6% do território continental. 2017 foi também o ano da tragédia de Pedrógão Grande, em que morreram 66 pessoas.

Em 2020, registaram-se perto de 10 mil incêndios e arderam 67 mil hectares, uma grande evolução face aos 41 mil que ocorreram em 2005, o ano com mais fogos.

Ainda de acordo com a Pordata, em 2021, um quinto de Portugal correspondia a áreas protegidas, incluindo a Rede Natura 2000.

Portugal era o 16.º país com maior percentagem de área protegida da UE, abaixo da média europeia (26%).

Já em relação às áreas marinhas, Portugal era o 3.º país com maior superfície protegida em 2019 (77 mil km2), pouco menos do que a superfície de Portugal continental (89 mil km2).