O investigador André Carvalho, do Centro Algoritmi da Universidade do Minho, foi distinguido pela Academia Internacional para a Qualidade (IAQ) com a melhor tese de doutoramento realizada nesta área, a nível mundial, em 2020.
À Renascença, o investigador conta que a distinção “significa o reconhecimento do trabalho que é a parte mais importante, não só em termos científicos e académicos, mas também pelo valor que será fornecido para as empresas que queiram promover cada vez mais a qualidade e a agilidade”.
O prémio, designado Riccardo Dell'Anna Doctoral Dissertation Prize, é atribuído pela primeira vez a um português e vai ser apresentado em setembro, na conferência da IAQ.
O trabalho de André M. Carvalho é o primeiro a provar, na prática, que organizações com foco na qualidade e melhoria contínua conseguem resistir e prosperar em ambientes cada vez mais incertos e complexos.
“O tema é, de facto, a qualidade e parte do princípio que já foi provado várias vezes que a qualidade ajuda as organizações a melhorarem e a atingirem o sucesso em ambientes estáveis. A questão, aqui, é hoje em dia não estamos em ambientes estáveis e aquilo que eu consegui estudar e provar é que é possível utilizar estes princípios da qualidade para, através de uma transformação cultural da empresa, perseguir também a agilidade que hoje em dia é essencial”, explica à Renascença.
Para o investigador, qualidade é “alinhar a organização com os requisitos do cliente e as necessidades da sociedade”.
O estudo de André Carvalho analisou dez organizações de Portugal e dos EUA e foi desenvolvido na Escola de Engenharia da UMinho, em Guimarães, no âmbito do doutoramento em Líderes para Indústrias Tecnológicas do Programa MIT Portugal.
Um estudo que o autor espera, agora, venha a contribuir para que as empresas possam crescer e desenvolver-se assentes no princípio da qualidade.
“A ideia é essa e aplica-se não só a grandes empresas, mas também a empresas mais pequenas”, conta o investigador que, ao “estudar diferentes empresas em Portugal e nos EUA, de diferentes dimensões”, conseguiu “identificar que no processo de crescimento e de estabilização de uma empresa e depois na sua operação do dia a dia, há vários desafios, mas também há várias soluções e que elas podem promover de forma a tentarem manter essa agilidade e sem deixar cair a parte essencial da qualidade”.
As pessoas sempre em primeiro lugar
Consciente de que há crises que vão ser sempre muito difíceis de enfrentar, o investigador deixa algumas dicas para as empresas vencerem e com qualidade, destacando a componente cultural e o foco nas pessoas como a mais importante e a que está muito presente no trabalho.
“É, de facto, muito importante nós conseguirmos motivar os colaboradores e motivar as pessoas para a mudança”, defende.
Depois, além de ser necessário “focar a melhoria contínua e tentar sempre implementar as novas tecnologias”, André Carvalho considera que é preciso também “promover uma cadeia de abastecimento forte e resiliente e ter boas relações, não só com fornecedores e com clientes, mas, muitas vezes, até com a concorrência”.
Em síntese, o investigador entende que “a dica central é não esquecer as pessoas. Principalmente nesta altura, que se fala muito da transformação digital, é essencial termos a noção de que sem o apoio das pessoas e dos nossos colaboradores não conseguimos fazer este tipo de transições”.
André M. Carvalho tem 32 anos, é natural de Braga e vive em Lisboa. Fez o mestrado integrado em Engenharia e Gestão Industrial pela UMinho, com um período Erasmus no VIA University College (Dinamarca), o doutoramento em Líderes para as Indústrias Tecnológicas pela UMinho e pelo MIT (EUA) e um pós-doutoramento pela Universidade Técnica da Dinamarca.
Teve ainda formações na Universidade de Ioannina (Grécia) e na Academia Militar. Foi também investigador visitante na Northeastern University (EUA), fundador do ASQ UMinho Student Branch (primeiro e único na Europa) e presidiu ao Núcleo Alumni de Engenharia e Gestão Industrial da UMinho. Além disso, colaborou nas empresas Bosch Car Multimedia, Logoplaste do Brasil e FOSS, trabalhando a qualidade em áreas desde a logística à transformação digital. É cofundador da Acesas Cultura e do Free Walking Tour Braga.
É atualmente investigador do Centro Algoritmi e professor da Universidade Lusófona de Lisboa, mas também já tinha sido laureado em conferências do MIT Portugal (2016), da IEOM Society International (2018) e da European Organization for Quality (2019).