Natália Teixeira Marques, moradora em Faro, sentiu-se mal na tarde de segunda-feira. Doente oncológica, numa fase adiantada da doença, que já não lhe permite andar ou sequer estar sentada, a mulher, de 73 anos, queixava-se de dificuldades em respirar. A filha, Sara, chamou uma ambulância para levar a mãe ao hospital.
“Por volta das seis e pouco liguei para o 112, na segunda feira, Ao fim de uma hora e pouco, ainda não tinham vindo, voltei a ligar, disseram que estavam com poucas ambulâncias e que iriam assim que possível", conta.
"Apareceram meia hora depois do segundo telefonema. Ou seja, mais ou menos uma hora e meia depois de ter ligado pela primeira vez."
Quando chegaram à unidade de saúde, Sara percebeu a causa da demora: a falta de macas no hospital para colocar os doentes. Este facto obriga a que os doentes permaneçam nas macas das ambulâncias, ficando estas retidas.
"Os bombeiros estiveram connosco cerca de três horas, até terem uma maca para mudar a mãe e poderem ir-se embora."
"Vi bombeiros completamente passados"
O episódio vivido por Sara e a mãe não era caso único: "Aconteceu com uma série de outros que estavam de Tavira, de Olhão e de outras entidades."
"Eu vi bombeiros completamente passados porque queriam sair e não podiam. Os que estavam connosco chegaram a dizer-me: ‘Eu tenho três chamadas e não consigo sair daqui’", conta.
"Ouvi um bombeiro a tentar levar a situação com algum humor a dizer a uma senhora que trabalha no hospital: ‘Eu dou-lhe uma caixa de pastéis de nata se me arranjar uma maca para eu me ir embora. Tenho muitas chamadas e tenho doentes a precisarem de assistência'”, recroda.
Natália acabou por ficar internada. Recebeu alta no dia seguinte, terça-feira. Mas se a espera para conseguir uma ambulância que a transportasse ao hospital já tinha sido longa, para regressar a casa foi muito pior.
A médica que lhe deu alta pediu uma ambulância às 16h30. Depois... "E depois ficámos à espera, e ficámos à espera, e ficámos à espera...”, desabafa .
Sara teve de sair do hospital e, ao fim de três horas sem saber da mãe, tentou perceber o que se passava. “Liguei para o hospital e disseram que a partir das 18h00, o atendimento do serviço de ambulâncias passa para Portimão. E que me iam passar a chamada para o núcleo de transportes."
Durante uma hora, Sara Teixeira Marques tentou falar com o núcleo de transportes. Nunca atenderam. “Acabaram por me dizer que é prática comum os senhores do núcleo de transportes não atenderem o telefone. Nem sequer internamente atendem. E que não há nada a fazer. É esperar."
E foi o que restou fazer a Sara. A mãe chegou a casa pelas 23h30, cerca sete horas depois de receber alta.
Contactado pela Renascença, o Centro Hospitalar Universitário do Algarve limita-se a dizer que “não dispõe de ambulâncias” e que “as ambulâncias de transporte de doentes são da responsabilidade de entidades privadas ou dos bombeiros e a sua disponibilidade não é gerida pelo hospital, mas sim pelas referidas entidades”.
Também o presidente da Comunidade Intermunicipal do Algarve prefere não comentar o caso.
Em declarações à Renascença, António Pina, autarca de Olhão, eleito pelo Partido Socialista alega desconhecer o caso concreto desta doente oncológica, lembrando que esta é uma questão relacionada com administração hospitalar que não é da competência de um presidente de câmara.
[Notícia atualizada às 11:36 com a resposta do presidente da CIM Algarve]