Os enfermeiros devem ter um papel mais ativo na saúde em Portugal. A ideia é defendida por Matthias Wismar, analista do Observatório Europeu de Políticas e Sistemas de Saúde, que, na última semana, participou numa conferência sobre inovação em políticas de saúde, em Lisboa.
Em entrevista ao jornal “Público”, este investigador alemão, que integra a delegação europeia da Organização Mundial de Saúde (OMS), diz-se favorável a uma reorganização das equipas em centros de saúde e hospitais, e dá como exemplo a delegação de tarefas médicas a enfermeiros especializados para realizar tarefas médicas, "como forma de aliviar a carga de trabalho" dos clínicos.
Wismar refere, por outro lado, que "há a uma cultura muito especializada" e defende que os médicos não devem recear ser generalistas.
O argumento que merece a "frontal discordância" do bastonário da Ordem dos Médicos. Miguel Guimarães diz à Renascença que "esta afirmação corresponde ao desconhecimento de quais são as competências de um médico de medicina geral e familiar".
"Se pensarmos na evolução da medicina, em que cada vez mais existe a necessidade das pessoas se dedicarem mais especificamente a determinadas áreas em benefício dos doentes, é estranho que um homem das ciências políticas venha em completa contracorrente em relação ao que acontece no mundo", remata o bastonário da Ordem dos Médicos.
Já sobre a possibilidade dos enfermeiros especialistas poderem desempenhar tarefas de rotina médica, Miguel Guimarães considera que Matthias Wismar "dá uma no cravo, outra na ferradura: se por um lado há falta de enfermeiros, por outro lado também há falta de médicos, e os médicos são os primeiros a defender o trabalho em equipa".
Mas há que não confundir os planos, "porque não pode haver transferência de competências. O que pode haver, isso sim, é delegação de tarefas em algumas situações nas equipas multiprofissionais", sublinha Miguel Guimarães, que acrescenta que "há países, como a Holanda, em que esta transferência de competências não foi bem-sucedida".
Já para a bastonária da Ordem dos Enfermeiros "não se trata de substituir o trabalho dos médicos". Em declarações à Renascença, Ana Rita Cavaco diz concordar, em tese, com a ideia de mais enfermeiros para tarefas médicas. Só que "o problema de Portugal não se coloca nos enfermeiros terem mais ou menos competências. Coloca-se mesmo na falta deles para fazerem aquilo que são as competências atuais", alerta a bastonária.
Ana Rita Cavaco sublinha, por outro lado, que "há uma crescente especialização dos enfermeiros portugueses, algo que também se verifica no resto do mundo". E essa "é a razão para que tenhamos cerca de 15 mil enfermeiros portugueses a trabalhar no estrangeiro, precisamente porque têm uma formação muito mais completa", conclui.