O antigo ministro da Educação Nuno Crato considera que uma disciplina autónoma de Cidadania e Desenvolvimento contém um "perigo" de se transformar em "algo de endoutrinação".
À margem de um debate sobre o novo ano lectivo no programa "Da Capa à Contracapa" da RenascençaRenascença, Crato defendeu os motivos pelos quais a Educação para a Cidadania não deve ser obrigatória na estrutura curricular.
" A Educação para a Cidadania, em abstrato, é necessária. Mas não deve ser uma disciplina autónoma. Deve ser algo que está imbuído na escola. Por exemplo, o que é Democracia ou o respeito pelos outros pode estudar-se na disciplina de História e praticar-se na disciplina de Matemática. Esses são valores que se transmitem muito pelo exemplo e pela reflexão. Mas acho mal haver uma disciplina específica para isso", afirma o antigo ministro da Educação e actual presidente da Iniciativa Educação.
Nuno Crato considera que existe um " perigo de uma disciplina dessas se transformar em algo de endoutrinação", mas recusa concretizar se isso está já concretizado na forma como a disciplina está a ser concebida e leccionada no sistema educativo português.
"Deveríamos evitar isso. Devemos limitar-nos às questões mais consensuais e mais importantes, como o respeito pelos outros, a igualdade de género, todo esse tipo de coisas que são consensuais. Isso é o que nos deve preocupar. A disciplina não se deve transformar em algo de endoutrinação. Por isso é que quando estive no Ministério a disciplina não era obrigatória", complementa Crato, que foi ministro da Educação entre 2011 e 2015 no governo liderado por Pedro Passos Coelho.
O programa "Da Capa à Contracapa", parceria semanal da Renascença com a Fundação Francisco Manuel dos Santos, debateu os desafios do novo ano lectivo em tempo de pandemia, com a presença de Nuno Crato e Maria Filomena Gaspar, professora da Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade de Coimbra.