María Neira, diretora do departamento de saúde pública e ambiente da Organização Mundial de Saúde (OMS), alerta que adiar a ação climática está a pôr em risco a saúde de milhões de habitantes de todo o mundo.
Numa entrevista à margem da cimeira mundial da saúde em Berlim, Neira disse ao The Guardian que agora "ninguém vai poder dizer 'eu não sabia'" e ainda que "todos precisam de saber que não se trata apenas do clima, dos ursos polares e dos glaciares. Isto é sobre os meus pulmões e os vossos pulmões".
Neira confirmou ao jornal britânico que "os médicos vão fazer com que os decisores políticos compreendam os danos causados pela queima de combustíveis fósseis na próxima cimeira climática". A COP28 vai realizar-se no Dubai e, pela primeira, vai ter um dia dedicado à saúde.
Durante essa cimeira, indica a médica espanhola, a OMS vai pedir investimentos "sem arrependimento" em áreas como infraestruturas hospitalares e água potável.
Um estudo da revista "Nature Climate Change" recentemente publicado adverte que, por volta de 2029, se nada se fizer em relação à diminuição das emissões de CO2, a temperatura média global irá registar um aquecimento superior a 1,5ºC.
A subida da temperatura terrestre, segundo os investigadores, é consequência de efeitos como a fusão do gelo, a libertação de metano e as alterações na circulação oceânica.
María Neira descreve a poluição atmosférica como um "assassíno invisível", que está já a "afetar negativamente os nossos principais órgãos", incluindo o cérbero, como revelou numa Ted Talk.
A médica refere ainda que doenças neurodegenerativas como a doença de Alzheimer ou o Parkinson vão ser mais prováveis, devido ao aumento de partículas poluentes no cérbero. Além disso, quanto mais tempo se está exposto a estas partículas, mais rápido o cérbero envelhece e maior será o risco de demência ou de derrames cereberais.
"Enviamos as crianças para a escola, a sociedade está a investir na sua educação e, contudo, o ar que respiram enquanto esperam pelo autocarro está a influenciar negativamente o desenvolvimento do seu cérbero", diz Neira.
Segundo a OMS e a médica espanhola, a poluição do ar já "causou mais de sete milhões de mortes prematuras este ano", número citado pelo The Guardian.
"Se adiarmos a ação por um dia, podemos perder milhares de vidas, mas se adiarmos um ano podemos perder, novamente, sete milhões", diz Neira durante a sua Ted Talk.
A OMS estima que 25% da carga global de doenças está relacionada com questões ambientais e as alterações climáticas.