Com o aproximar do fim do COP 26, começa a tornar-se evidente o sentimento de frustração entre muitos ativistas pelo clima, que lamentam mais uma oportunidade perdida para fazer uma verdadeira diferença no combate às alterações climáticas.
Para José Luís Monteiro, da Oikos, há medo dos países ricos em operacionalizar um mecanismo que compense os mais pobres pelos desastres climáticos. “Era preciso operacionalizar os mecanismos de compensação, era preciso haver dinheiro, mas o que há é medo, basicamente. Há medo dos países desenvolvidos de serem responsabilizados e reconheçam que são responsáveis por muitas das perdas e dos danos nos países em desenvolvimento. Para mim é o mais grave nesta COP."
Para citar exemplos concretos, este ativista lembra como as alterações climáticas pesam nos cofres de países em desenvolvimento também no espaço lusófono.
"Países como Moçambique, que não têm grandes formas de financiamento neste momento, que têm de reconstruir uma Beira que foi destruída por um ciclone; países como Madagáscar, que tem metade do país a passar fome; Cabo Verde, que está altamente sobreendividado e que não sabe como é que vai fazer para cumprir os NDCs e que tem uma seca terrível (esta semana choveu pela primeira vez em dois anos na Ilha de São Vicente). Todos estes problemas foram chutados para a frente e isso é o que nos dá mais pena".
E como poderia ser aplicado este dinheiro? José Luís Monteiro diz que estes países deveriam ter nos seus orçamentos estes fundos internacionais para ativar em caso de catástrofe ambiental. "Pensemos por exemplo num país como Moçambique, que paga em serviços de dívida quantidades astronómicas, numa catástrofe esse pagamento podia ser suspenso, e é dinheiro que já está no terreno, em vez de sair do país para depois vir por solidariedade de alguém, continua lá e pode ser aplicado".
Uma das decisões por fechar já há alguns anos diz respeito às regras para criação de mercados globais de carbono. José Luís Monteiro acredita que em parte este esquema poderia ajudar os países mais pobres, mas que há um fator negativo também. "É uma faca de dois gumes. O artigo 6.º, sendo bem regulamentado, poderia ser uma porta de entrada de capital para os países em desenvolvimento. Mas também pode ser uma desculpa para os países desenvolvidos continuarem a fazer as coisas como estão, duplicarem contagens, fazerem uma série de outras falcatruas e continuarem a pagar para poluir.”
“É mais uma forma de adiar o problema em vez de o resolver", acrescenta.
De Glasgow deve sair a proposta de revisão de metas de cortes de emissões já em 2022, mas a Oikos espera que isso não signifique um constante empurrar das decisões.
"É um mal menor, ou seja, é o melhor que se pôde fazer com aquilo que se está a passar. Agora, resta saber se todos os anos vamos apontar e dizer que não estamos a chegar ao 1,5º e apontar para o ano seguinte outra vez. Não é de todo aquilo de que se necessita, precisamos agora de mais decisões práticas e não só de aumentar a monitorização", conclui o ativista.