Foi com um forte e emotivo apelo ao apuramento de toda a verdade sobre o que se passou no incêndio de Pedrógão em que morreram 64 pessoas que um grupo de famílias de vítimas saiu esta terça-feira à tarde do Palácio de Belém. Depois de mais de duas horas de reunião com o Presidente da República, a porta-voz das famílias que se tentam constituir como associação foi Nádia Piazza, mãe de uma das crianças que morreu.
Nádia Piazza, com a voz bastante embargada, fez um apelo “àqueles que podem fazer história e que estão no terreno a investigar”. E enumerou: “Aos magistrados, aos inspectores da Polícia Judiciária, aos investigadores e cientistas da comissão técnica independente e aos investigadores do centro de estudo florestais, que sejam independes e imparciais, guerreiros incansáveis contra quaisquer dificuldades ou forças contrárias ao apuramento da verdade.”
Antes deste, fez um outro apelo em que também manifestou receio por relatórios que não esclareçam o que aconteceu e as responsabilidades do Estado. Apelou aos familiares das vítimas mortais que ainda não contactaram este grupo que tenta formar a associação e também aos feridos e seus familiares. “Juntos somos fortes, separados a nossa voz será esquecida e com ela os nossos entes falecidos, superada por uma versão institucional dos factos, fundamentada por um qualquer relatório dúbio”, disse numa declaração sem direito a perguntas.
Este grupo de famílias está a tentar constituir-se como associação e tenciona promover uma lei. “Manifestamos a nossa intenção em motivar um ante-projecto de lei em matéria de direito das vítimas em caso de catástrofes com a criação imediata de uma associação de vítimas ao coberto da lei, com apoio jurídico associado, a criação de uma unidade de missão independente desde a primeira hora responsável por agilizar e coordenar todas as questões burocráticas, logísticas e de ressarcimento dos danos materiais e pessoais”, anunciou.
Transparência para os fundos
Na declaração com menos de cinco minutos, Nádia Piazza começou por dizer que tinham ido falar com o Presidente da República sobre as responsabilidades do Estado e as razões estruturais que levaram a esta catástrofe.
“É ao Presidente da Republica, o Presidente de todos nós, último garante da Constituição da República e do Estado de direito que manifestamos a nossa mais sentida revolta pela morte de tantas pessoas e é no Presidente da República que manifestamos a nossa mais firme confiança na garantia da obtenção da justiça que todas e cada uma das vítimas merecem”, disse a porta-voz das famílias, que chamou a atenção para o regresso das crianças à escola e com o cada vez maior isolamento dos idosos.
Nádia Piazza agradeceu a ajuda de todas as pessoas pela solidariedade manifestada depois da tragédia, mas manifestou preocupação pela “ausência de mecanismos de transparência internacionalmente reconhecidos na aplicação de fundos”.
A terminar, a porta-voz das famílias deixou um apelo a todos: “Portugal é um estado de direito, ás vezes esquece-se de como foi viver nos tempos em que buscar a justiça era sinónimo de oposição. Não é. Esta luta é de todos: cidadãos, Presidência, Assembleia da República, Governo e Judiciária.”