A família Patrício está habituada a casa cheia. Tem quatro filhos e dois cães, mas por estes dias a mesa enche-se ainda mais com sete peregrinos que acolhe no âmbito da Jornada Mundial da Juventude (JMJ). Seis deles chegaram da Venezuela e outro, um padre, vem do Equador.
Na mesa do pequeno-almoço há lugar para todos e a refeição começa com uma oração. O pai, Hugo Patrício, ensaia o seu melhor espanhol e pede: “Graças para que as Jornadas corram como Ele quer, e não como nós queremos.” Em coro os jovens peregrinos respondem em oração.
Nesta que é uma das muitas casas de Cascais que acolhe os cerca de 60 mil peregrinos alojados no concelho durante a JMJ conversa-se sobre os hábitos portugueses e trocam-se palavras sobre a expectativa quanto ao evento.
À Renascença, a mãe Maria Patrício conta-nos que ser família de acolhimento é a sua “forma de conhecer outras pessoas de outros países” e conclui que “cada um dá de si o melhor e o mundo fica melhor”. Maria lembra também que em casa da família Patrício “fala-se de Deus a propósito e a despropósito” e que “com eles também falamos de Deus a propósito e a despropósito!”
O pai Hugo reconhece que “já saíram” da faixa etária da JMJ, e, por isso, encontraram esta forma de participar como família de acolhimento. São uma das mais de 28 mil que, em Portugal, se disponibilizaram para receber quem quer participar neste evento, que contará com a presença do Papa Francisco em Lisboa e Fátima.
Desmancharam o escritório para o transformar em quarto para receber os peregrinos, que se espalham também por outros espaços da casa, por estes dias mais vazia de filhos. Os mais velhos, de 21 e 19 anos, são voluntários na JMJ e por isso estão fora de casa, tal como o terceiro filho, de 14, que presta apoio como escuteiro na paróquia da Parede.
Em casa ficou a mais nova. Sara está entusiasmada por receber tantos peregrinos em casa, embora lamente “não saber falar muito bem espanhol”. A jovem, que tem espalhados pela casa quadros pintados por si, diz-nos que também queria participar na JMJ, mas tem “apenas 11 anos e a JMJ é para maiores de 13”.
Sara está, no entanto, feliz pela experiência que está a viver com estes jovens que tem em casa. “Faz-me um sorriso na cara estar com eles, e poder partilhar as nossas coisas com eles”, conta-nos, antes de se sentar à mesa com o Padre Mauricio, do Equador, a jogar dominó.
Mauricio foi o primeiro peregrino que esta família recebeu. Este padre Salesiano tem 42 anos e é delegado da Pastoral juvenil numa instituição no Equador. É a primeira vez que participa numa Jornada deste género e quando lhe perguntamos porque aqui está é categórico: “Para nós, Salesianos, a importância de acompanhar os jovens está no ADN da nossa congregação. Não poderia não estar!”
São de resto os Salesianos que unem estes peregrinos e esta família. Hugo e Maria estudaram nos Salesianos do Estoril e todos estes peregrinos que acolhem são ou estão ligados aos Salesianos.
À mesa, concluem que têm por isso “uma linguagem comum”, aponta Hugo Patrício. “É quase como se nos conhecêssemos há já alguns anos.” Um dos peregrinos acrescenta mesmo que “é como estar em casa, em família”.
A comprová-lo estão as palavras de outros dois peregrinos que chegaram da Venezuela. José e Egdiel têm pouco mais de 19 anos e sentem que esta experiência em família “faz parte do crescimento pessoal”.
“As famílias portuguesas são muito hospitaleiras”, partilha Egdiel. Já José, estudante de comunicação social, vem com a expectativa de “viver uma experiência bonita de Deus” e, ao mesmo tempo, poder ter “a alegria de ver de perto o Papa Francisco”.
Estar em Lisboa para estes representantes da América Latina é também fazer o diagnóstico sobre o estado da Igreja. O Padre Mauricio lembra que “na América Latina olha-se a Europa como um continente descristianizado e secularizado”, no entanto, admite, a família Patrício provou-lhe o contrário.
Durante a conversa toca à porta mais um grupo de peregrinos que vêm juntar-se a este pequeno-almoço, onde é servido café, pão, leite, cereais, iogurte e fruta. A família Patrício coloca-os à vontade. Explica-lhes onde podem apanhar o comboio para poderem rumar às atividades da JMJ e diz-lhes que se sintam à vontade de regressar a casa a qualquer hora.
Atenta está Pati, uma “quatro patas” arraçada de Grand Danois que cumprimenta efusivamente todos os novos membros da família, assim como Peúga, a cadela mais pequena da família que, por estes dias, terá sempre mesa pronta para quem chegar.
Antes de saírem rumo a Belém onde decorrem os eventos da Jornada na Cidade da Alegria, Hugo oferece aos peregrinos fruta para levarem para o caminho. Eles enchem a mochila com água e a fé que os trouxe até Portugal para esta edição da JMJ que começa esta terça-feira.
Depois de Belém, estes peregrinos seguirão para Lisboa para assistir à Missa de Abertura, presidida pelo Cardeal-Patriarca de Lisboa, D. Manuel Clemente, às 19h.