Afinal, quão alinhados (ou não) estão o ministério das infraestruturas, tutelado por Pedro Nuno Santos, e o líder do PSD sobre as obras imediatas no aeroporto Humberto Delgado, em Lisboa? A questão surge à luz do desafio lançado por Luís Montenegro: "Antes de decidir a localização do novo aeroporto, façam-se já as obras" nas instalações da Portela.
O presidente social-democrata falava esta terça-feira num encontro organizado pela Caixa Geral de Depósitos, em Oeiras, onde defendeu que "já se podiam ter feito no tempo da pandemia, mas o Governo esteve a dormir e não aproveitou a retração aeroportuária”.
Esta quarta-feira, o líder do PSD teve resposta do ministro das Infraestruturas, que disse aos jornalistas em Vizela que o Governo precisa de “perceber melhor de que obras no aeroporto de Lisboa é que o presidente do PSD está a falar“.
“Perceber se [o PSD] está a dirigir estas questões ao Governo ou à concessionária do aeroporto da região de Lisboa. Perceber se a discussão sobre a futura solução para a região de Lisboa passa por discuti-la em posta ou discutir, sim, uma solução de expansão da capacidade aeroportuária da região de Lisboa”, concluiu Pedro Nuno Santos.
Ninguém quer abrir o jogo sobre o assunto do novo aeroporto de Lisboa, em nenhuma das suas dimensões, seja no curto ou no longo prazo, seja o Humberto Delgado ou a solução Montijo/Alcochete.
Nesta estratégia, Montenegro desafia o Governo ao mesmo tempo que não se define sobre nenhuma opção de localização, defendendo-se com audições a especialistas que anda a fazer. Escaldado, o ministro das infraestruturas responde com meias perguntas ao líder do PSD depois de ter sido desautorizado pelo primeiro-ministro.
Obras no Humberto Delgado: Para Montenegro é "já", Pedro Nuno quer (queria?) "o quanto antes"
Há quase um mês, a 29 de junho, no mesmo dia em que foi publicado o polémico despacho do secretário de estado Hugo Santos Mendes, a tutela dava a conhecer a solução Montijo + Alcochete, mas avançou também com outros pormenores, nomeadamente sobre o futuro imediato e a prazo do aeroporto Humberto Delgado, em Lisboa.
O ministério das Infraestruturas, ao mesmo tempo que apresentava aquela solução, defendeu que já no próximo ano as instalações do aeroporto na zona da Portela deveriam sofrer uma nova intervenção, com novas obras.
Dessa intervenção resultariam, por exemplo, alterações na Torre de Controlo, num custo total estimado de 200 a 300 milhões de euros. De resto, a Renascença deu conta dessa intenção da tutela: era considerado necessário fazer essas obras "o quanto antes". Isto foi há um mês.
Esta intenção não consta do polémico despacho do secretário de estado Hugo Santos Mendes, mas foi dada a conhecer à Renascença no mesmo dia em que se deu a publicação do diploma, revogado pelo primeiro-ministro no dia imediatamente a seguir.
Aliás, ao mesmo tempo em que era admitida a necessidade de obras já em 2023 no aeroporto Humberto Delgado, o ministério das Infraestruturas admitia que, a prazo e após a solução Montijo + Alcochete estar fisicamente consumada, as instalações na zona da Portela seriam para desmantelar e entregar os respectivos terrenos à Câmara Municipal de Lisboa.
Conclusão: se nos retirarmos da bolha criada por esta troca de galhardetes entre Montenegro e Pedro Nuno Santos, pelo menos em relação ao futuro a curto prazo do aeroporto Humberto Delgado, em Lisboa, percebe-se que ambos estão mais ou menos sintonizados. Se um defende obras na Portela "já", no ministério das Infraestruturas defende-se uma intervenção "o quanto antes".
Resta saber que sintonia pode ser alcançada entre o PSD e o Governo, ou pelo menos entre o líder social-democrata e o primeiro-ministro, não só sobre o futuro a prazo das instalações do Humberto Delgado, mas sobre a localização definitiva do novo aeroporto de Lisboa. Ou se tudo fica exactamente na mesma.