O primeiro-ministro italiano, Mario Draghi, vai revelar esta quarta-feira no Senado se mantém o seu pedido de demissão, após a crise política na coligação governamental, enquanto os partidos que o apoiam politicamente voltam a votar uma moção de confiança.
Draghi fará um discurso no Senado às 09:30 (08:30 de Lisboa), antes da discussão e votação de uma moção de confiança, que acontecerá ao final da tarde, quando os deputados se pronunciarão sobre o futuro político de uma larga coligação de "unidade nacional" que inclui partidos de todo o espetro político, da extrema-direita à esquerda.
Na quinta-feira passada, Draghi apresentou a demissão, no meio de uma crise política desencadeada pela recusa do Movimento 5 Estrelas (M5E, anti-sistema), que faz parte da coligação de governo, em participar num voto de confiança ao executivo.
Nesse mesmo dia, o pedido de demissão de Draghi foi rejeitado pelo Presidente de Itália, Sergio Mattarella, que remeteu o assunto para o parlamento.
Na terça-feira, na véspera da sessão parlamentar que irá ditar o futuro da coligação governamental italiana, Draghi deslocou-se à residência do Presidente da República, para se encontrar com Mattarella e depois regressou à sede do Governo para preparar a moção de confiança que será votada hoje no Senado.
De acordo com os 'media' locais, Enrico Letta, secretário-geral do Partido Democrático (PD) - uma força política progressista que apoia Draghi - terá ido falar na terça-feira com o primeiro-ministro para o convencer a encontrar uma solução de permanência da atual coligação governamental.
Estas conversas de Draghi poderão indicar um avanço nas negociações para resolver a atual crise política, depois de o primeiro-ministro ter acusado o M5S de boicotar a coligação, ao recusar o apoio parlamentar aos pacotes de ajuda para aliviar os efeitos da inflação.
Nos últimos dias, Draghi, um tecnocrata, tem recebido milhares de pedidos para que não renuncie, incluindo uma petição assinada por milhares de autarcas e por dirigentes de organizações da sociedade civil, que alegam que o país não pode suportar uma crise política, ainda em fase de luta contra a pandemia de covid-19 e no momento crucial de aplicação do Plano de Recuperação e Resiliência.
À exceção do M5S, todos os outros partidos da coligação - desde o PD aos partidos de direita e da extrema-direita, como o Forza Italia, de Silvio Berlusconi, e a Liga, de Matteo Salvini - têm tentado convencer o primeiro-ministro a permanecer no cargo.
Estes partidos consideram que a coligação deve abdicar do apoio do M5S, que classificam como "não fiável", e procurar uma nova dinâmica de apoio parlamentar.
A alternativa será antecipar as eleições nacionais, que estão marcadas para a primavera do próximo ano.
Os ultra-radicais do movimento Irmãos de Itália, de Giorgia Meloni, a única oposição formal a Draghi no parlamento, invocam os bons resultados nas sondagens para insistirem neste cenário, estando já a força partidária a preparar-se para formar Governo, segundo avançam alguns meios de comunicação social.
Mas a última palavra caberá a Mattarella, que em janeiro passado concordou com relutância em permanecer como chefe de Estado italiano, antecipando uma crise política que agora pede a Draghi, o ex-presidente do Banco Central Europeu (BCE) que aceitou formar governo em fevereiro de 2021, para tentar contornar.