A pobreza extrema na Venezuela caiu de 68% para 53,3% em 12 meses, mas estão a aumentar as desigualdades, segundo o Inquérito Nacional sobre as Condições de Vida dos Venezuelanos (Encovi) - 2022.
Esta redução é um produto de melhorias nos rendimentos e no emprego. A pobreza está a começar a ter mais a ver com fatores sociais e de infraestruturas (habitação, educação e serviços), embora ainda predominem os [fatores] económicos”, explica o relatório divulgado em Caracas.
Segundo o documento, elaborado pela Universidade Católica Andrés Bello (UCAB), em paralelo à queda da pobreza extrema o país registou também uma descida da “pobreza total” que em 2019 era de 92,9%, em 2021 foi de 90,9% e em 2022 se situa em 81,5%.
Por outro lado, a pobreza por razões sociais aumentou de 31% em 2019 para 42% em 2022, e a pobreza por razões económicas caiu de 69% para 58% no mesmo período, enquanto a desigualdade de rendimentos subiu de “.407” em 2014 para “.603” em 2022.
“A Venezuela está no continente mais desigual do mundo e, em 2022, é o país mais desigual da América. O nosso nível de desigualdade é comparável com o da Namíbia, Moçambique e Angola”, explica o Encovi, precisando que “a diferença entre o décimo mais pobre e o mais rico é de 70 vezes”.
O relatório precisa que “quase 40% dos agregados familiares com maiores rendimentos encontram-se em Caracas” e que a capital “concentra apenas 16% dos lares do país”.
“O rendimento dos homens é 11% inferior ao das mulheres (5,11 dólares [5,02 euros] por hora e 5,78 dólares [5,68 euros] respetivamente). A média de horas semanais trabalhadas é de 41,5 horas para os homens e 36,8 horas para as mulheres. Esta maior disposição dos homens para trabalhar pode ter a ver com compromissos domésticos e cuidados das mulheres”, explica.
Segundo o documento, a desigualdade nas tarefas, não só nas domésticas, mas também no cuidado de crianças e idosos, torna as mulheres menos competitivas para cargos e trabalhos de gestão.
“Há uma redução nos programas sociais, e os problemas de focalização continuam”, com as famílias venezuelanas a serem agora “menos dependentes da ajuda estatal”, refere o documento.
“A política social na Venezuela foi reduzida basicamente a dois programas: Transferências de dinheiro (permanentes ou temporárias) e as caixas CLAP [alimentos a preços subsidiados]. São necessários novos programas sociais para incorporar maior produtividade e bem-estar para famílias em situação de pobreza”, explica.
Segundo o inquérito, “a educação foi deixada à sua própria sorte depois de mais de dois anos sem atividade”, sendo essencial implementar “processos de nivelação para compensar os efeitos desta paralisia escolar”.
“O envelhecimento da população irá continuar a gerar pressão sobre um sistema de pensões que tende a diminuir. Deixar as tendências de emprego ao mercado de trabalho significa ignorar os problemas de desigualdade”, lê-se no documento.
O Encovi 2022 sublinha ainda ser necessário uma política de juventude que gere oportunidades e inclusão sócio-produtiva para um segmento da população, que ainda se sentem tentado a abandonar o país se não conseguirem melhorias económicas.
Segundo o relatório, a Venezuela tem atualmente 28,3 milhões de cidadãos e desde 2015 pelo menos cinco milhões abandonaram o país à procura de melhores condições no estrangeiro.