O ministro dos Negócios Estrangeiros da Rússia, Sergei Lavrov, desvaloriza as origens judaicas do Presidente ucraniano, Volodymyr Zelenskiy, afirmando que estas não contradizem o objetivo de “desnazificar” a Ucrânia, insinuando que “até Hitler tinha sangue judeu”.
“O que interessa se Zelenskiy é judeu. Isso não nega que existem nazis na Ucrânia. Posso estar errado, mas até Hitler tinha sangue judeu. Isso não significa nada”, afirmou no domingo em entrevista ao canal italiano “TGcom24”, acrescentando que “normalmente os piores antisemitas são os próprios judeus”.
Em reação às declarações de Lavrov, o homólogo israelita já veio pedir esclarecimentos. Yair Lapid considerando-as um “terrível erro histórico”. “O nível mais baixo de racismo contra judeus é acusar os próprios judeus de antisemitismo”, escreveu nas redes sociais.
Já o primeiro-ministro israelita, Naftali Bennett, afirma que as “mentiras” ditas pelo ministro russo pretendem “culpar os judeus pelos mais terríveis crimes da história”.
O ministro dos Negócios Estrangeiros ucraniano, Dmytro Kuleba, o Governo alemão e a União Europeia também condenaram as declarações do chefe da diplomacia russo comparando dirigentes ucranianos judeus a Hitler, que "também tinha origens judaicas".
Dmytro Kuleba declarou que tais afirmações do seu homólogo russo, Serguei Lavrov, sobre o líder nazi Adolf Hitler e judeus, demonstram o profundo antissemitismo do poder russo.
"Lavrov não conseguiu esconder o antissemitismo profundamente enraizado das elites russas. Os seus hediondos comentários são ofensivos para o Presidente [ucraniano, Volodymyr] Zelensky, para a Ucrânia, Israel e o povo judeu. De forma mais geral, eles demonstram que a Rússia atual está cheia de ódio para com os outros países", escreveu o MNE ucraniano na rede social Twitter.
Por seu lado, o Governo alemão classificou como fazendo parte da "propaganda russa" para justificar a invasão da Ucrânia as declarações de Lavrov, de que poderá ainda haver elementos neonazis naquele país, apesar de alguns governantes, entre os quais o Presidente Zelensky, serem judeus, ao que acrescentou: "Hitler também tinha origens judaicas, portanto isso não quer dizer nada".
Na mesma entrevista, a primeira vez que um governante russo fala a uma televisão europeia, Lavrov voltou ainda a considerar que o massacre de Bucha, onde morreram centenas de corpos de civis ucranianos, é “falso”, referindo que a comunicação social do Ocidente “deturpa” as comunicações do Kremlin.
O ministro de Putin negou ainda que a Rússia pretenda pôr fim à guerra na Ucrânia a 9 de maio, data em que se celebra o Dia da Vitória.
“Os nossos militares não ajustarão artificialmente as suas ações a qualquer data, incluindo o Dia da Vitória”, afirmou, numa referência ao ano de 1945 e à rendição da Alemanha Nazi após a entrada da União Soviética em Berlim.
"O ritmo da operação na Ucrânia depende, acima de tudo, da necessidade de minimizar possíveis riscos para a população civil e para os militares russos", acrescentou. "Celebraremos solenemente o 9 de maio, como sempre fazemos. Recordemos aqueles que caíram pela libertação da Rússia e de outras repúblicas da ex-URSS [União das Repúblicas Socialistas Soviéticas], pela libertação da Europa do flagelo nazi.”
O dia é usualmente celebrado em Moscovo com um desfile militar e um discurso do Presidente, Vladimir Putin, em que este saúda o papel da antiga URSS na derrota do fascismo na Europa.
A Rússia lançou em 24 de fevereiro uma ofensiva militar na Ucrânia que já matou mais de três mil civis, segundo a ONU, que alerta para a probabilidade de o número real ser muito maior. A ofensiva militar causou a fuga de mais de 13 milhões de pessoas, das quais mais de 5,5 milhões para fora do país, de acordo com os mais recentes dados da ONU.