A adesão à greve da função pública nos Açores foi superior a 90% nas escolas, revelou esta seta-feira o coordenador do Sindicato dos Trabalhadores em Funções Públicas e Sociais do Sul e Regiões Autónomas (STFPSSRA).
"No setor da Educação, a greve foi, em termos percentuais, superior a 90%, com as principais escolas da região encerradas. Algumas não chegaram a abrir. Outras foram fechando ao longo da manhã", avançou, em declarações à Lusa, o coordenador do STFPSSRA, João Decq Mota.
Segundo fonte oficial do Governo Regional, a adesão à greve nos Açores foi, no geral, de 12,38%.
De acordo com dados disponibilizados pelo sindicato, encerraram, pelo menos, 27 escolas na ilha de São Miguel, 17 na Terceira, 10 no Pico, nove no Faial, duas em Santa Maria, duas na Graciosa e uma em São Jorge.
"Em relação à Educação foi uma estrondosa greve nos Açores. Veio só dar razão às reivindicações que tínhamos", frisou o dirigente sindical, alegando que "as principais escolas secundárias e preparatórias fecharam".
Para João Decq Mota, a adesão à greve foi mais "expressiva" neste setor, porque é mais notória a "precariedade e a falta de recursos humanos".
"Apesar de o Governo dizer que alargou e abriu concursos, é do conhecimento público que as escolas estão a rebentar pelas costuras em termos de falta de assistentes operacionais e assistentes técnicos. Isso levou a que houvesse um enorme descontentamento", adiantou.
No setor da Saúde, a adesão foi menos expressiva do que na greve nacional, que ocorreu em junho, mas, "na globalidade, foi superior a 65%".
"Tivemos muitos serviços dos três hospitais seriamente afetados, com o bloco operatório da Horta, por exemplo, encerrado", avançou o coordenador do STFPSSRA.
O sindicalista salientou ainda uma adesão "muito forte" nos matadouros públicos da região, revelando que houve uma tentativa de furar a greve no de São Miguel, onde "num universo de 170 ou 180 trabalhadores, só foram trabalhar três".
O matadouro da Terceira encerrou, o do Faial também não registou abates e o do Pico contou com uma adesão à greve de 60%.
"Os trabalhadores estão frontalmente contra a integração do IAMA [Instituto de Alimentação e Mercados Agrícolas]e do IROA [Instituto Regional de Ordenamento Agrário] nesta nova coisa que a Iniciativa Liberal quer, que é a Agriazores", avançou.
Segundo João Decq Mota, os trabalhadores demonstraram mesmo "disponibilidade para nos próximos tempos poder desenvolver outras ações de luta específicas dos matadouros para que esta medida não vá por diante".
Sem dados globais apurados, em termos percentuais, o sindicalista disse que a greve atingiu os seus objetivos, assinalando o "descontentamento" com os governos regional e nacional, face à "situação de discriminação a que os trabalhadores da administração pública têm sido sujeitos ao longo dos últimos anos".
"Esta greve ainda antes de acontecer já produziu resultados. No dia 18 de agosto anunciámos que íamos fazer esta greve no dia 14 de outubro e foi posterior a esta data que o secretário regional das Finanças abriu a negociação para a remuneração complementar", afirmou.
O sindicato reivindicava um aumento superior ao anunciado para a remuneração complementar, mas manifestou-se satisfeito por terem sido dados alguns passos.
"Já houve um pequenino avanço, que foi fruto do facto de termos convocado esta greve. Nada nos garante que se não tivéssemos convocado esta greve o senhor secretário das Finanças viesse a negociar o aumento da remuneração complementar, ainda por cima com retroativos a este ano", apontou.
A greve convocada pelo STFPSSRA em agosto visou contestar a "postura arrogante e discriminatória" do Governo Regional.
Os trabalhadores reivindicam "a valorização e o reforço de todos os serviços públicos da administração pública regional", "o aumento da remuneração complementar para 100 euros", a "reposição das carreiras profissionais na administração pública" e o "respeito pelos acordos celebrados".
Pedem ainda a "correção da Tabela Remuneratória Única", a "revogação do sistema integrado de gestão e avaliação do desempenho na administração pública regional dos Açores (SIADAPRA)" e a integração de "todos os trabalhadores dos programas ocupacionais que exercem funções permanentes nos serviços públicos regionais".