Mesmo no meio da guerra da Ucrânia faz-se cinema. A prová-lo está “Vyrai”, um filme documental que tem estreia internacional em Lisboa, na 21.ª edição do Doclisboa e que conta a história de uma aldeia ucraniana destruída pela ofensiva russa e que se junta em comunidade para se reconstruir
É destes outros olhares sobre a atualidade que se faz o cartaz do Festival Internacional de Cinema que decorre de 19 a 29 de outubro na Culturgest, Cinema São Jorge, Cinemateca Portuguesa e Cinema Ideal, em Lisboa.
O programa foi apresentado esta quarta-feira, na Culturgest e propõe um cartaz em que os números falam por si. São “250 filmes, 113 longas-metragens, 137 curtas-metragens, 39 filmes portugueses, 42 países e 9 primeiras longas-metragens”, explicou na conferência Miguel Ribeiro, diretor do Doclisboa.
Esta edição faz-se com “35 estreias mundiais, 26 estreias internacionais e duas estreias nacionais” referiu o diretor que considera cada filme “uma porta de entrada” para o cinema que se está a fazer agora, mas não só, já que esta edição apresenta uma retrospetiva sobre “os conturbados anos 30 na América do New Deal”.
“Documentário em Marcha” é, segundo o diretor da Cinemateca Portuguesa, “um grande acontecimento”, já que reúne em Lisboa uma das mais completas e vastas mostras de cinema do género. Trata-se, nas palavras de José Manuel Costa, de um momento “fundador” do cinema documental que contamina até hoje este tipo de produção.
Vários retratos de Cyndi Lauper a Agnés Varda, de Luís Miguel Cintra a Joan Baez
Um filme inédito de Orson Welles intitulado “Portrait of Gina” será apresentado em estreia portuguesa no Doclisboa a 21 de outubro. Trata-se de “um episódio piloto para uma série de televisão que nunca aconteceu”, explica Miguel Ribeiro e que apresenta uma viagem que Welles fez por Itália à procura de Gina Lollobrigida e onde o realizador se cruza com personagens como Vittorio De Sica.
Este é um dos filmes que será apresentado na secção Heart Beat onde são exibidos outros filmes que retratam vidas de artistas bem conhecidos. Exemplo disso é “Rock Hudson: All That Heaven Allowed“, de Stephen Kijak que será apresentado a 27 de outubro na Culturgest ou “Viva Varda!”, de Pierre-Henri Gibert, um filme que reúne um conjunto de entrevistas à icónica realizadora Agnès Varda.
Nos retratos, Miguel Ribeiro destacou ainda um filme sobre a cantora Cyndi Lauper. “Let the Canary Sing” de Alison Ellwood é exibido dias 26 de outubro na Culturgest e dia 27 no Cinema São Jorge e outro sobre o vocalista dos Libertines, Peter Doherty que é mostrado dias 25 e 28 de outubro.
Em português, na secção Heart Beat é apresentado “Verdade ou Consequência?” de Sofia Marques, um documentário que já estreou no Porto, e que retrata a vida e obra do encenador Luís Miguel Cintra.
Na secção Verdes Anos, e em português marca-se o regresso a Edgar Pêra. O realizador regressa ao universo do poeta Fernando Pessoa. “Não Sou Nada – The Nothingness Club” estreia dia 25 de outubro na Culturgest e propõe um thriller em torno do universo pessoano e tem como protagonistas os atores Albano Jerónimo e Vitória Guerra.
Realizador chinês Wang Bing estreia filme no Doclisboa
Já teve problemas no passado com o regime chinês, mas prefere não falar disso. O realizador chinês Wang Bing participou esta quarta-feira na apresentação do Doclisboa de forma remota. O cineasta cujo filme fará a sessão de abertura do festival explicou que a atual “situação política e económica está em grande mudança” e que por isso não sabe o que irá filmar no futuro. Foi a forma que encontrou para responder sobre se irá voltar a rodar na China.
Certo é que o filme que apresenta em estreia em Lisboa, “Man in Black” foi filmado em França, na Ópera de Paris e faz um retrato de Wang Xilin, um compositor chinês de 86 anos “que trabalhou sempre com a raiva de viver com um Estado de repressão”, explica o diretor do Doclisboa.
Sobre o seu filme, Wang Bing conta que quis retratar a vida de um “amigo de há 20 anos” que foi viver para a Alemanha e que “teve grandes dificuldades” a adaptar-se à vida naquele país.
Já o encerramento do Doclisboa será em português. “Baan” é o novo filme da realizador Leonor Teles que estreia no fecho do festival. À Renascença, a cineasta premiada conta que este foi um filme que teve alguns percalços na rodagem, já que foi filmado em plena pandemia o que obrigou a algumas mudanças.
“Baan” é a palavra que em tailandês quer dizer “casa”, explica Teles que indica que este é um filme que fala do problema da habitação que afeta a sua geração, mas que tenta ir mais longe e olha para a casa “como um lugar de procura emocional”.