Grupos de católicos propõem vigílias de oração nesta Quarta-feira de Cinzas numa iniciativa de solidariedade para com as vítimas de abusos sexuais no seio da Igreja.
Até ao momento está confirmada a adesão de Lisboa, Porto, Coimbra, Santarém, Braga, Évora, Beja, Fátima, Oeiras, Palmela, Funchal e Ponta Delgada.
Os promotores convidam os católicos a unirem-se, em vigília de oração silenciosa, diante da principal igreja da sua localidade, das 21h00 às 22h00, sugerindo que todos os participantes “tragam uma vela acesa”.
No Porto, a iniciativa está marcada para junto da Torre dos Clérigos. Sofia Thenaisie, professora da Universidade Católica, espera um grupo significativo de participantes, pois a ideia é também demonstrar solidariedade para com a Igreja.
“Seria muito importante as pessoas juntarem-se à vigília”, porque “todos somos responsáveis pelo caminho que a Igreja irá seguir a partir daqui”, diz.
A carta que apresenta a iniciativa junto à Torre dos Clérigos é assinada por 40 pessoas que reafirmam “o compromisso em não deixar que o silêncio volte a imperar”.
Sofia Thenaisie garante que “este movimento de leigos quer demonstrar à Igreja que estamos todos juntos”.
“É um problema que assumimos em conjunto e é um problema que todos queremos resolver e, por isso, agradecemos também que os párocos tenham acedido a que fosse lida a nossa carta e penso que isso é muito importante estarmos juntos nesta solução e no encontrar novos caminhos a partir daqui”, assinala.
É necessário pedir perdão
Em Lisboa, onde a ideia inicial surgiu e o desafio foi lançado ao resto do país, a vigília vai decorrer junto ao Mosteiro dos Jerónimos.
À Renascença Joaquim Pedro Cardoso da Costa, um dos responsáveis pela iniciativa, explica que o relatório sobre abusos não deixou ninguém indiferente e que é necessário pedir perdão.
“É um sinal de que não estamos indiferentes ao que vemos, ouvimos e lemos, e que precisamos de mostrar o nosso testemunho enquanto leigos, membros da Igreja, que também se sentem profundamente envergonhados”, sublinha, considerando que era preciso fazer uma manifestação no espaço público, "para mostrar que estamos presentes perante essas vítimas e seus familiares”.
“Cabe-nos”, prossegue, “pedir perdão, em oração silenciosa e visível, e apelamos às pessoas que tragam uma vela, com todo o simbolismo que isso representa”.
Nestas declarações, Cardoso da Costa diz, ainda, que é também objetivo da vigília mostrar à hierarquia da Igreja que não está só para a tomada de decisões e no assumir das responsabilidades.
“Não podemos ser leigos passivos, seja a criticar, seja a apoiar. Temos de ser leigos ativos a participar, a manifestar proximidade com a hierarquia, mas na exigência das transformações que têm de ser corajosas”, afirma.
Entre os promotores da iniciativa estão nomes como Margarida Neto, Ana Rita Bessa, Sofia Galvão e o chefe Hélio Loureiro, entre outros.
Todas as dioceses portuguesas aderiram à proposta, por isso, um pouco por todo o país, nesta Quarta-Feira de Cinzas, vão realizar-se vigílias de oração pelas vítimas de abuso sexual, marcando também o início da Quaresma.
Se foi vítima de abuso ou conhece quem possa ter sido, não está sozinho e há vários organismos de apoio às vítimas a que pode recorrer:
- Serviço de Escuta dos Jesuítas , um “espaço seguro destinado a acolher, escutar e apoiar pessoas que possam ter sido vítimas de abusos sexuais nas instituições da Companhia de Jesus.
Telefone: 217 543 085 (2ª a 6ª, das 9h30 às 18h) | E-mail: escutar@jesuitas.pt | Morada: Estrada da Torre, 26, 1750-296 Lisboa
- Rede Care , projeto da APAV, Associação Portuguesa de Apoio à Vítima, que “apoia crianças e jovens vítimas de violência sexual de forma especializada, bem como as suas famílias e amigos/as”.
Com presença em Lisboa, Porto, Coimbra, Braga, Setúbal, Santarém, Algarve, Alentejo, Madeira e Açores.
Telefone: 22 550 29 57 | Linha gratuita de Apoio à Vítima: 116 006 | E-mail: care@apav.pt
- Comissões Diocesanas para a Protecção de Menores . São 21 e foram criadas pela Conferência Episcopal Portuguesa.
São constituídas por especialistas de várias áreas, recolhem denúncias e dão “orientações no campo da prevenção de abusos”.
Podem ser contactadas por telefone, correio ou email.
Para apoiar organizações católicas que trabalham com crianças:
- Projeto Cuidar , do CEPCEP, Centro de Estudos da Faculdade de Ciências Humanas da Universidade Católica
Se pretende partilhar o seu caso com a Renascença, pode contactar-nos de forma sigilosa, através do email: partilha@rr.pt