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O Papa Francisco convidou esta quinta-feira os padres católicos a abandonar a busca por conforto material e a não confundirem a sua função com a execução de ritos, reuniões e colóquios.
Falando perante a comunidade religiosa de Moçambique, incluindo bispos, padres, religiosos e religiosas, mas também catequistas e animadores pastorais, Francisco apresentou dois modelos de pessoas que receberam de Deus desafios específicos: Zacarias e Maria. Apesar de o primeiro, pai de São João Baptista, ter sido sacerdote, é a jovem mulher de Nazaré que se apresenta como modelo a seguir.
“É evidente que, nas duas Anunciações, há um anjo. Entretanto, numa, a aparição dá-se na Judeia, na mais importante das cidades – Jerusalém – e não acontece num lugar qualquer, mas no templo e, dentro dele, no Santo dos Santos; dirige-se a um varão e… sacerdote. Ao passo que o anúncio da Encarnação é feito na Galileia, a mais remota e conflituosa das regiões, numa pequena aldeia – Nazaré –, numa casa e não na sinagoga ou lugar religioso, feito a uma leiga e... mulher.”
“Que mudou? Tudo. E, nesta mudança, está a nossa identidade mais profunda”, adverte Francisco.
Respondendo a um dos intervenientes que o procedeu, interpelando o Papa sobre a “crise de identidade sacerdotal”, Francisco voltou a este exemplo de Zacarias e Maria.
“Perante a crise de identidade sacerdotal, talvez tenhamos que sair dos lugares importantes e solenes; temos de voltar aos lugares onde fomos chamados, onde era evidente que a iniciativa e o poder eram de Deus.”
“Às vezes sem querer, sem culpa moral, habituamo-nos a identificar a nossa atividade quotidiana de sacerdotes com certos ritos, com reuniões e colóquios, onde o lugar que ocupamos na reunião, na mesa ou na aula é de hierarquia; parecemo-nos mais com Zacarias do que com Maria”, disse o Papa.
“A imagem desta donzela simples na sua casa, em contraste com toda a estrutura do templo e de Jerusalém, pode ser o espelho onde vejamos as nossas complicações e preocupações que obscurecem e rarefazem a generosidade do nosso sim”, acrescentou ainda Francisco, concluindo que “É esgotante viver o vínculo com Deus como Zacarias, como um doutor da Lei: sempre cumprindo, sempre julgando que o salário é proporcional ao esforço feito, que é mérito meu se Deus me abençoa, que a Igreja tem o dever de reconhecer as minhas virtudes e esforços”.
Por fim, dirigindo-se mais especificamente à realidade da Igreja moçambicana, Francisco disse que esta deve seguir o exemplo de Maria também na solicitude que ela teve de partir para visitar a sua prima Isabel, precisamente a mulher de Zacarias, mãe de João Baptista.
“Vós – pelo menos os mais velhos –, que fostes testemunhas de divisões e rancores que acabaram em guerras, tendes de estar sempre dispostos a ‘visitar-vos’, a encurtar as distâncias. A Igreja de Moçambique é convidada a ser a Igreja da Visitação; não pode ser parte do problema das competências, menosprezos e divisões de uns contra os outros, mas porta de solução, espaço onde sejam possíveis o respeito, o intercâmbio e o diálogo”, explicou o Papa, confiando esta intenção ao Espírito Santo.
“Tal como Maria caminhou para casa de Isabel, assim também nós da Igreja temos que aprender o caminho frente a novas problemáticas, procurando não ficar paralisados por uma lógica que contrapõe, divide, condena. Ponde-vos a caminho e buscai uma resposta para estes desafios pedindo a assistência segura do Espírito Santo. É Ele o Mestre capaz de mostrar os novos caminhos a percorrer.”
Com este encontro chega ao fim o programa do Papa para esta quinta-feira, em Moçambique. Na sexta-feira haverá ainda uma missa com mais de 80 mil pessoas, nos arredores de Maputo e depois Francisco viaja para o Madagáscar. Esta viagem a África incluirá ainda uma passagem pelas Maurícias.