Nuno Lemos Pires é um coronel do Exército que se dedica há mais de 20 anos a estudar o fenómeno do jihadismo. O resultado é o livro “Resposta ao jihadismo radical” lançado esta quinta-feira, em Lisboa.
Nesta obra, o militar e historiador apresenta políticas e estratégias para vencer grupos como a Al-Qaeda, o Boko Haram ou o Estado Islâmico.
Porque “a ameaça chegou ao nosso quintal”, já não é possível virar a cara e fingir que não se passa nada, alerta em entrevista à Renascença. A urgência de apresentar uma resposta ou várias respostas levou-o a escrever este livro, que começa por mostrar como aqui chegámos.
“Há três factores potenciadores que estão na origem daquilo que estamos a viver: alterações climáticas, pressão demográfica e uma enorme crise de valores, sistema de valores”, elenca Lemos Pires, sublinhando que o jihadismo ganha contornos cada vez mais dramáticos e chegou ao coração da Europa.
Mas qual o trunfo dos grupos radicais? Os recrutadores fornecem um sentido de vida aos jovens que vivem completamente desapegados, não têm emprego, sem esperança de integração social, que são mal tratados pelo sistema. “De repente aparece-lhe alguém que lhes dá uma ideia de pertença, poder, família, dá-lhes a organização e dá-lhes explicações muito simples”.
Resta saber, refere o autor, “se os europeus vão ser capazes de estar à altura e trabalhar em conjunto. Já que uns estão mais preocupados e empenhados que outros”.
Para este coronel de Infantaria é preciso entender “que não há uma resposta só politica, só militar ou só económica. O problema só se resolverá com muita persistência ao longo dos próximos anos”.
Uma estratégia em três palavras
Neste livro propõe uma estratégia imediata que pode ser resumida em três palavras: “drones, loans and phones”.
“O uso de drones (elementos não tripulados) num combate indirecto para se ter a certeza que quem está a fazer este tipo de acção não se pode sentir à vontade para o fazer. Loans está relacionado com o fluxo de dinheiro, que tem de ser controlado. A última é phones - expressão que quer dizer telefones, comunicações - porque como é óbvio é preciso um grande controlo sobre as comunicações destes grupos de e para fora na propaganda e na contra propaganda, na informação e nos media e na comunicação entre os próprios grupos terroristas”, explica.
Nuno Lemos Pires lembra que o “problema do jihadismo radical tem tanto tempo como o Islão”. Uma resposta só pode ser abrangente e direccionada no tempo. Uma tarefa “ para as duas próximas gerações”.