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No universo de 32 conferencistas portugueses convidados para os três dias da Web Summit, conferência de tecnologia e inovação que decorre em Lisboa, apenas uma é mulher: Patrícia Mamona, atleta do triplo salto. O que é que isto significa? Fomos à procura das respostas das mulheres.
A primeira foi um ataque à pergunta. “Nunca me ocorreria pensar nas coisas dessa forma. A sua abordagem é sexista. A mim não me choca nada isso e pensar nisso dessa forma é sexista”, defende Catarina Campos, que está na Web Summit em representação da L'Oréal. A participante crê que os conferencistas foram escolhidos pela qualidade e não pelo género.
Patrícia, colega de Catarina Campos, corrobora: “Veja na L'Oréal também se pensa que é só mulheres, mas há cada vez mais homens”.
Na Web Summit há um espaço, o “Women in Tech” (Mulheres na tecnologia), o que, para Catarina e Patrícia, é também uma forma de expressar sexismo. Dão o mesmo rótulo à ideia homónima de a organização ter oferecido dois mil bilhetes a mulheres. “Acho mal que houvesse homens na minha empresa que queriam vir e não vieram porque esses bilhetes eram só para mulheres”, diz Patrícia.
As duas defendem que essa divisão por género que se reflecte nos oradores não existe na audiência. Paddy Cosgrave, presidente da Web Summit, argumentou o mesmo no primeiro dia da cimeira. O rácio de mulheres na Web Summit subiu de “uns ridículos” 10% no início (a cimeira foi fundada em Dublin, em 2009) para 40% este ano. Mas ressalvou que as mudanças demoram tempo.
Confrontada com a existência de uma portuguesa apenas entre os oradores nacionais, Ana Neves, engenheira informática na Knowman, reage com um resignado “somos poucas”. Diz que o evento apenas dá corpo ao que o mundo da tecnologia e empreendedorismo é em Portugal: “um mundo masculino”.
Ana organiza um evento europeu de tecnologia em Lisboa, o Social Now, e confessa que tem “muitas dificuldades em encontrar mulheres para darem palestras”.
Há falta de mulheres nas empresas tecnológicas? “Mais do que haver poucas, é complicado encontrar elementos do sexo feminino em posições de maior destaque”, ressalva. “Aliás, aqui até estão mais mulheres entre o público do que é usual, porque há muita gente que vem de áreas que não só tecnológicas.”
Rita Dinis, 21 anos, acredita que a falta de mulheres no palco é “um problema”, mas apenas um reflexo do mundo empresarial fora da feira, “não o exponencia”. “Nunca” sentiu que lhe foi barrada uma oportunidade por ser mulher nas duas empresas em que esteve, “mas a verdade é que a maioria dos que lá trabalham são homens”.
Um pouco mais à frente, duas amigas, Rita e Beatriz, fazem a ligação deste tema às eleições americanas. “Isto do Trump não vai ajudar nada à causa feminista”, afirmam. Em relação a Portugal, pensam “que o país está muito atrasado” em termos de igualdade. “Mas a verdade é que aqui até se vêem muitas mulheres”, anunciam. Depois, reconhecem que isso também se deve ao facto de muitos dos bilhetes terem sido dados. “Isso é um bocado machista, mas para nós foi bom”, dizem, não evitando o paradoxo.