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Portugal prepara-se para aliviar as medidas de confinamento, um mês e meio depois de ter sido decretado o primeiro estado de emergência. Como fica o país, depois da fase mais dura de mitigação da Covid-19? Será que esta foi mesmo a fase mais dura? O que esperar nas várias áreas que sofreram grandes mudanças durante esta pandemia?
Todos os dias, a Renascença convida um especialista de uma área diferente a olhar para o mundo e o país pós-Covid-19. Esta quinta-feira, o economista Luís Aguiar-Conraria procura antecipar o impacto futuro da pandemia na economia.
As previsões mais recentes, nomedamente as do BCE, não auguram um futuro próspero. Antes pelo contrário: a zona euro vai recuar entre 5 a 12% em 2020, uma contração com uma dimensão e velocidade sem precedentes desde a Segunda Guerra. Luís Aguiar-Conraria considera que “é difícil ser otimista” perante tal cenário e admite mesmo que Portugal será dos países mais castigados neste período. E depois.
“Provavelmente seremos dos países da zona euro que mais sofrem, porque temos um efeito muito grande do turismo. Mas as previsões de longo prazo têm muito a ver com a evolução da doença. Portanto, o tempo de recuperação desta crise é absolutamente imprevisível. Os economistas costumavam dizer que os meteorologistas existem para dar credibilidade aos economistas, porque os economistas se enganam sempre nas previsões. Agora precisamos dos epidemiologistas e dos virologistas a ajudar os economistas”, explica.
Segundo o economista, a necessidade de agora reabrir a economia e a sociedade pode ter dois efeitos: um devastador e outro de esperança.
“Há a sensação de que se agora retomamos e se de repente vem uma nova onda do vírus, em setembro ou em outubro, o efeito desmobilizador disso, e até desmoralizador, será muito mais forte do que o que foi agora. Mas se isso não acontecer, renova-se a confiança. E aí a economia retomará mais depressa.”
Aconteça o que acontecer, a economia sofrerá com a pandemia. Agora e nos próximos anos.
“O PIB cai imenso este ano. E se cai tanto este ano, que mesmo que para o ano cresçamos 5%, ainda estaremos longe de recuperar o que se perdeu. Do ponto de vista económico, este é um cenário mais grave do que o verificado na crise financeira de 2008. Se precisamos de uma ‘Troika’ ou não, isso vai depender do comportamento das instituições europeias e do BCE. Se o BCE continuar com a atitude de garantir as taxas de juro baixas, então não vamos precisar de uma ‘Troika’. Mas o défice vai ficar quase de certeza nos dois dígitos.”
Segundo Luís Aguiar-Conraria, o excedente orçamental do Governo de pouco valerá agora. E a austeridade, mesmo que vindo a ser rejeitada por António Costa, é, segundo o economista, “necessária”.
“Não faria grande diferença ter havido um governo mais ambicioso, e termos neste momento 1 ou 2% de excedente, ou um governo menos ambicioso, e ter 1 ou 2% de défice. O que aí vem é um tsunami tão grande que não me parece que no fim faça grande diferença estarmos um bocadinho acima ou um bocadinho abaixo. Objetivamente, acho que só na terra dos sonhos é que podemos pensar que não será necessário haver contenção orçamental séria. E por contenção orçamental refiro-me a cortar despesa, afetando obviamente funcionários públicos, onde se podem cortar salários, e refiro-me a impostos, que podem ser aumentados”, prevê o economista.