SOARES VISTO POR SOARES
- Não gosto nada de ter 90 anos.
- A vida é sempre curta. O que é preciso é que a gente viva com dignidade e deixe uma memória simpática do que fez. Sobretudo as pessoas vivem no coração dos seus amigos.
- Estou numa fase da minha vida que é a última. Vou fazer 90 anos. Tive uma encefalite que me enfraqueceu.
- Tenho um bom coração, tudo aqui dentro do peito está em óptimas condições, impecável. Agora as pernas... as pernas chateiam-me. Fora as outras coisas.
- A partir dos 80 anos deixei de beber uísque e bebidas assim, deixei de fumar, deixei de guiar.
- Tenho o que Pascal chamava de “sprit finesse”; quer dizer, a capacidade intuitiva de olhar para uma pessoa e a compreender. Tive muitos acidentes na minha vida política, mas nunca fui traído.
- Tenho grandes lacunas na minha educação. Nunca me julguei superior. Estou a falar-lhe com sinceridade. Também há outra coisa: nunca me tomei excessivamente a sério.
- Nunca li discursos feitos pelos outros. Escrevi-os todos.
- Sou socialista, republicano e laico.
- Só é vencido quem deixa de lutar.
- Tire essa ideia da cabeça. A mola que me movia nunca foi o protagonismo.
- Não sei fazer nada com as mãos. Nunca tive uma máquina fotográfica, quando era pequeno deram-me uma, mas pôr o rolo, tirar o rolo, nunca fui capaz de fazer. Mesmo a máquina de escrever só utilizei quando estava no exílio. Tinha uma máquina Baby e não tinha secretárias. Habituei-me a escrever à máquina nessa altura, com dois dedos.
- Entre os meus defeitos, tenho a impaciência. Sou impaciente, às vezes colérico, nas coisas pequenas, nas grandes não.
- Nunca tive depressões. Eu sou simples: não sou vaidoso, não estou sempre a posar para alguém, digo aquilo que penso, não quero fazer passar gato por lebre. A minha mulher costuma dizer: “Tu és mais do simples, és simplista!, não vês a complexidade das coisas”.
- Medo toda a gente tem, mas há alguns que o vencem e outros que se deixam ser vencidos.
- O país é pequeno e isso condiciona o nosso próprio estatuto. Mas tenho a sensação de que uma das minhas deficiências foi não falar inglês. Tem a ver com a minha geração.
- Eu não gosto de esquecer, perdoo, mas não esqueço.
- Nunca tive mau feitio, sempre considerei os tipos com qualidade, mesmo quando não eram meus amigos ou eram meus inimigos no tempo em que eu tinha funções políticas. Qualidade é o que me interessa. O Eanes é um tipo de qualidade, como o Sá Carneiro era.
- A internet? Não leio. Não quero saber. Você quer que eu leia a internet? Nunca me preocupei com o que dizem sobre mim e não vou agora começar. O diz que disse não tem nenhum valor! Todos os dias sou confrontado com senhoras e cavalheiros que me vêm abraçar e dizer 'livre-nos dessa malandragem!' Todos os dias!
- Sempre me preocupei com o planeta, você não imagina o estado em que está este planeta! É fundamental salvar os oceanos e não estamos a fazê-lo, fartei-me de organizar coisas para isso. E o ano passado, com as marés de inverno, o litoral português desapareceu. A areia foi-se e este ano vai ser pior. É preciso impedir esta catástrofe.
MOMENTOS HISTÓRICOS
- O povo português pode saber hoje, aqui na Marinha Grande, o que é a violência e o que é o espírito antidemocrático dos partidários de Salgado Zenha, Álvaro Cunhal e Ramalho Eanes. Fui agredido, mas isso não me impediu de circular em Portugal porque Portugal é uma terra de liberdade, não é Moscovo.
- [No debate com Cunhal] Há em presença duas concepções diferentes da vida e dessa transformação da sociedade que ambos dizem desejar: uma democrática que se pretende fazer no respeito das liberdades e outra que é uma concepção totalitária que prescinde das liberdades para organizar uma sociedade que se quer ou pretende socialista, mas que os exemplos históricos mostram que têm descambado em sociedades de capitalismo de estado de fachada socialista e com regimes de repressão feroz.
- No momento mais difícil do PREC, o senhor patriarca ajudou-nos, eu pedi-lhe várias audiências e tive algumas, parte delas secretas.
- Com a normalização democrática conseguida, como aconteceu, não fazia qualquer sentido perseguir Spínola ou Otelo que, cada um à sua maneira, contribuíram para o 25 de Abril, que foi um movimento pacífico que entusiasmou a Europa e o Mundo.
- [Cumpriram-se como esperava os três D – descolonização, democracia, desenvolvimento?] Sem dúvida nenhuma e por esta ordem: descolonização, democratização, desenvolvimento. Se a ordem fosse outra, muita coisa teria falhado. Mas insisto: quem fez e ganhou a Revolução dos Cravos, que entusiasmou toda a Europa e o Mundo, foram exclusivamente os militares do MFA.
PORTUGAL
- Pessimista? Nada! O estado do país é uma infâmia! Mas há-de mudar, os portugueses são óptimos!
- Hoje, Portugal não existe. Se for de Bragança ao Algarve a pé não encontra ninguém. Não há terras cultivadas, populações, vida. Estes gajos estão a destruir o nosso país, estão a vender tudo, só falta a TAP.
- Nunca pensei que Portugal devesse sair do euro, nem da União Europeia. Foi através do euro e da nossa entrada na CEE, que foi anterior, que Portugal entrou num período de grande desenvolvimento em todos os sectores, nunca visto antes.
- Não querem manter o Estado Social, porque o dinheiro vai para outros interesses. Muito menos justos do que os do Estado Social. Não acredito nessa tese.
- Há hoje em Portugal determinadas polícias que fazem lembrar a antiga PIDE.
- Depois do 25 de Abril, Portugal foi um país extraordinário. Nós fizemos tudo. Entrámos na União Europeia, um grande gesto. Desenvolvemos uma política social imensa. Tivemos um serviço nacional de saúde gratuito. Houve respeito pelos sindicatos de todas as naturezas. E o diálogo social entre sindicatos e empresas para fazermos a concertação social. Tudo isso se fez. Fizemos um país que, até à crise, era um país extraordinário.
EUROPA
- Todos juntos, todos juntos somos necessários para ganhar o desafio da Europa.
- Para Portugal a adesão à CEE representa uma opção fundamental por um futuro de progresso e modernidade. Mas não é uma opção de facilidade, exige muito dos portugueses embora lhes abra largas perspectivas de desenvolvimento.
- O apoio que [as instituições da troika] nos deram não foi nenhuma esmola que deram a um pobre. Foi um negócio em que vão ganhar muito aqueles que nos emprestaram o dinheiro e que elevaram as taxas de juro. Vão fazer fortunas com essas taxas de juro. É para isso que eles lá estão. Não é para nos ajudar a nós. Não podem vir aqui governar o nosso país, não é a função de estrangeiros governar o nosso país, muito menos quando não há um governo europeu.
- A crise do euro não é só financeira e económica é também social, política, ética e ambiental. O neoliberalismo, a ideologia que provocou a crise, contra as pessoas e em favor do dinheiro, está moribunda e não vai poder perdurar muito.
PODER
- Fui duas vezes para primeiro-ministro não no tempo das vacas gordas, mas em tempo de vacas magríssimas.
- Decidi avançar [nas eleições presidenciais em 1986], não obstante ter a consciência de haver feito no Governo uma política impopular – mas necessária –, correndo o risco, por isso, de perder as eleições!
- [Caso Melancia] Desconhece-se uma coisa essencial: é que eu tenho repulsa por esse tipo de coisas. Se me vier um gajo qualquer, por aquela porta ou por outra porta qualquer, falar-me de coisas de dinheiro, eu mando-o logo à merda. É a minha maneira de ser.
- Se a atitude do Governo tem sido outra, mais aberta, dialogante, flexível, diferente teria sido a percepção política que o país teria tido da Presidência Aberta. […] Mostrar a realidade e dizer, ou fazer dizer, a verdade nunca pode ser contra o Governo, mas sim uma forma inteligente e crítica de o ajudar.
- [Para um militar da GNR] O senhor guarda desapareça, diga ao seu colega para desaparecer. Não queremos polícias.
- Gosto de olhar o mar e o Tejo. A coisa que mais recordo do Palácio de Belém, onde nunca passei uma noite, e estive lá dez anos a trabalhar, é aquela varanda voltada para o Tejo. Tem cores fabulosas, então no Inverno... Quando tinha que reflectir sobre qualquer problema, em vez de estar sentado, ia passear para a varanda.
- Não sou um grande estadista. Nem sequer me considero estadista, para lhe dizer a verdade. Considero-me um político.
- Sou o gajo que lhes atira mais às trombas.
- Fiz a Fundação com o dinheiro, as doações que me deram para uma campanha eleitoral, e que dinheiro, as doações que me deram para uma campanha eleitoral, e que não usei. Não gastei. Fui [ter com os doadores] para o devolver, está aqui o vosso dinheiro, mas eles não o quiseram de volta porque já estava nas escritas deles. Ora eu não ficar com o dinheiro. Disse que ia criar uma Fundação, desde que eles assim o entendessem e ficassem membros fundadores da Fundação. A Fundação nunca gastou esse dinheiro com que se fundou (….).
- Os brasileiros têm grandes problemas, estão aflitíssimos. Isso da PT foi tudo uma estupidez. O modo como o Governo resolveu destruir o aparelho do BES prejudicou tudo o resto, não perceberam como o grupo era importante para a economia e deram cabo de tudo. E hoje toda a gente ficou danada, foi tudo mal resolvido. Atiraram tudo abaixo sem nenhuma vantagem para Portugal.
- Ele [Ricardo Salgado] vai falar (…) As coisas vão ficar diferentes.
- [O BES] deveria ter sido preservado.
- A empresária Isabel dos Santos, filha do Presidente José Eduardo dos Santos, tem tido uma acção enorme em Portugal e, como se tem dito, ganhou bastante dinheiro. Recentemente quis comprar a PT no momento de crise. Era excelente que assim tivesse acontecido, porque se trata de uma lusófona e além disso tinha um projecto articulado para as telecomunicações dos países da Lusofonia.
DESCOLONIZAÇÃO
- Ponderamos se a descolonização se deveria fazer apenas após eleições regulares. Mas verificou-se que o problema era candente, que dificuldades e demoras surgiam no processo. E assim convencemo-nos que precisávamos de nos apressar.
- [Se acreditou nos slogans do antigo regime] que Angola é nossa e sê-lo-á para sempre, e que não são colónias mas simplesmente províncias ultramarinas – então terá razão em sentir-se traído. Mas, na realidade, a traição é do regime de Salazar e Caetano que quiseram fazer esta gente acreditar que seria possível oferecer resistência ao mundo inteiro e à justiça.
- [Angola] Ali generaliza-se entre os brancos uma atitude perigosa. Precisamos de convencer os brancos, no seu próprio interesse, que fiquem, mas já não como patrões, como até agora.
- Spínola foi um grande chefe militar, de uma grande valentia aliás. Depois de sair da Guiné veio para o Continente e escreveu um livro Portugal e o Futuro, que teve uma enorme repercussão, anti-Caetano. Em 25 de Abril foi chamado pelo grande herói, que devia estar no Panteão, Salgueiro Maia que pediu (para evitar derramamento de sangue) que Spínola viesse ao Carmo para levar preso Marcelo Caetano. O que ele fez. Quem o fez Presidente (não eleito) foram os militares de Abril.
- Tenho muita honra em ter participado na descolonização.
- Ou a descolonização era feita a sério ou não. Porque o regime de Salazar não acreditava sequer que isso fosse possível. Depois, com Marcello Caetano, a emenda foi pior que o soneto, porque eles queriam fazer umas pequeninas coisas mas acabaram por não conseguir fazer nada. Eles não eram a favor da descolonização. Não percebiam a importância que tinha a descolonização feita em paz. E, realmente, eu tive dificuldades em vários países europeus. Diziam: "Mas vocês querem fazer a descolonização neste tempo?" Queremos.
- Se necessário o exército vai atirar sobre colonos brancos.
PARTIDO COMUNISTA
- A opção do Partido Comunista Português, nós não nos deixaremos satelizar. Nós defenderemos a liberdade como a defendemos no tempo do fascismo.
- Comecei muito cedo a contestar aquele tipo de militância, irritavam-me as regras de disciplina, dita conspirativa, achava ridícula a agenda de trabalho das reuniões [….] Sentia que não era por aí que devíamos caminhar: o importante era virar a juventude contra o regime.
- Quando era jovem julgava que o comunismo era a juventude do mundo.
- O comício da Alameda foi o princípio do fim de Vasco Gonçalves e marcou o ponto de viragem da cavalgada revolucionária insensata que, se não fosse detida como foi, arrastaria Portugal para o abismo.
- Ele tinha um olhar penetrante. Com a idade, ficou com esse olhar gélido. Eu tinha 15 anos e ele tinha 26, ou 16 e 27. Era jovem, muito magro, aquela fotografia que vem no livro do Pacheco Pereira, ele era assim. Tinha fascínio pela inteligência do Cunhal, porque era um visionário, estava sempre a falar da aurora da revolução que aí vinha, do comunismo como uma coisa mítica.
- Nunca tive a intenção de ter uma luta com o PCP. Pelo contrário. Sempre pensei que seria possível fazermos uma frente de esquerda. Mas quando me apercebi que o plano do PCP era "comer" o PS, isso não.
- Os ataques dos comunistas contra Carlucci foram completamente inúteis. Quanto a ser ou não da CIA, não sei dizer, nem isso nunca me importou. Ainda hoje penso que foi mais um acto de propaganda frustrado.
PERSONALIDADES INTERNACIONAIS
- Mon ami, Mitterrand.
- Não estou contente com o mandato do Hollande.
- [Sobre Manuel Valls] Uma besta! Não podia continuar como primeiro-ministro. Eu escrevi um artigo nessa altura sobre isso em que dizia que aquele tipo devia ir para a rua imediatamente. Um Presidente que é eleito como socialista e que tem um primeiro-ministro que diz que quer deitar o socialismo fora! Eu demitia-o, evidentemente. É infecto que Hollande o mantenha.
- Eu não gostaria de calçar os sapatos da senhora Merkel porque a Alemanha está em decadência. O que se passa na Alemanha é o contrário do crescimento económico.
PARTIDO SOCIALISTA
- A pressa que eu tinha em criar o PS repousava fundamentalmente no facto de achar que ia dar-se uma ruptura do sistema. Para isso, tínhamos de estar organizados, ter um partido, com dirigentes reconhecidos, capazes de poderem falar em nome dele e ser ouvidos. Era essa a minha percepção fundamental.
- O Zenha não me magoou muito porque não foi uma coisa que considerasse inesperada. Percebi que havia um distanciamento dele em relação a mim a partir dos últimos anos.
VISÃO INTERNACIONAL
- Há uma vertente ideológica que facilitou a crise: foi o neoliberalismo, responsável pela economia virtual, pela globalização desregulada e sem ética, pela idolatria dos mercados usurários – que vivem dos paraísos fiscais, que deviam ser ilegalizados - e que hoje mandam nos Estados. Mas à ideologia neoliberal vai acontecer o mesmo que ao comunismo.
- O futuro é socialista. Porque este estado de coisas, estes regimes em que os tipos de direita fazem tudo o que querem às pessoas, não se pode manter.
- O que é extraordinário é que eu nunca fui pró-americano. Pró-europeu sempre fui. Mas fui simpatizante e amigo dos EUA e do povo dos EUA. Sempre fui. Apesar de no tempo da ditadura, e é preciso não esquecer esse tempo, nós termos entrado indevidamente no pacto Atlântico.
AD
- Antes das eleições, em casa de Proença de Carvalho, tinha tido dois ou três encontros com Mota Pinto. Ele era partidário, há longa data, de um Governo de coligação entre os dois maiores partidos. Quis fazê-la antes das eleições, o que teria alargado a votação de ambos os partidos. Por mim, opus-me, com o argumento de que seriam as eleições que ditariam quem seria o primeiro-ministro: Mota Pinto ou eu. Dependeria de qual fosse o partido mais votado. Mota Pinto concordou. Esse foi o compromisso.
- Mota Pinto foi um excelente interlocutor e compreendeu, desde o início, o alcance do que estava em causa: a gravidade imensa da situação do país. Ainda hoje estou sinceramente convencido de que foi uma sorte para Portugal, e para mim próprio, o facto de ser Mota Pinto quem dirigia o PSD nessa altura.
- [Mota Pinto] Um político de grande envergadura, com muita pouca paciência para as tricas e exigências partidárias... Não esquecendo os slogans escritos nas ruas das cidades de Portugal, alguns ainda subsistem, que tanto nos uniram e fizeram rir: "Soares Pinto, rua!" Lembram-se...?
CAVACO SILVA
- Fui uma força de contenção contra os demónios da arrogância e do autoritarismo, que algumas vezes terão marcado o Governo de Cavaco Silva. [...] Fui também, e sobretudo, uma válvula de segurança do regime democrático, procurando evitar derrapagens, excessos ou eventuais explosões.
- Salazarista convicto no tempo da ditadura.
GUTERRES
- António Guterres, temendo que as eleições para o Parlamento Europeu não fossem particularmente boas para o PS, convidou-me, com particular insistência, para aceitar ser cabeça de lista dos candidatos do PS. Custou-me a aceitar. Primeiro, já tinha, nessa altura, organizado a minha vida. Segundo, porque se tratava de uma obrigação para cinco anos. E nunca gostei de não cumprir os compromissos que assumi, até ao fim. Mas acabei por aceitar. Era uma experiência internacional totalmente nova e ainda por conhecer que podia ser útil ao PS.
- Guterres é do mais inteligente que passou pela política portuguesa. Incontestavelmente e bem preparado.
- Guterres que é um homem muito estimável, de uma seriedade absoluta, é um homem que não sabe dizer não a ninguém. Porque gosta de ser amado e portanto faz tudo para ser amado e um político tem de dizer não.
SÓCRATES
- Toda a gente acredita na inocência [de José Sócrates]. Isto é uma malandrice destes tipos que actuam e que não fizeram nada. Ele nunca foi ouvido. Afinal o que é que ele fez? Têm feito uma campanha contra ele que é uma infâmia.
- Sócrates deve ser posto em liberdade quanto antes e com os devidos pedidos de desculpa.
- O juiz Carlos Alexandre que se cuide.
- José Sócrates é o anti-Guterres.
VISÃO POLITICA
- Gostava que os partidos de esquerda se entendessem, mas não quero pedir tanto... Talvez um dia seja possível. Lembro uma coisa: os social-democratas e os comunistas alemães passavam a vida a discordar e a discutir quando apareceu o Hitler. Acabaram todos em campos de concentração. Temos de pensar nisso.
- Coitada da direita! É preciso acabar com a direita! É isso. Já lhe disse que quem fez a Europa, a União Europeia, foi o socialismo democrático e a democracia cristã. O que existem agora são partidos que historicamente não fazem sentido.
- Passos Coelho é um homem sério, o que nos tempos que correm é quase uma raridade. Tem coragem, são coisas que aprecio, é um economista que estudou as doutrinas neoliberais e acredita nelas. Eu não.
- A democracia em Portugal não existe.
RELIGIÃO
- A especulação metafísica interessa-me muito, eu não acredito é na imortalidade da alma. Acredito na memória, e que a memória possa transmitir-se de pessoa em pessoa. Mas essa mesma memória, que é muito afectiva, na primeira geração é total, na segunda é diluída, na terceira geração quase desaparece.
- [Sobre o Papa Francisco] Tenho por ele um grande respeito e uma enorme admiração. É a grande figura deste nosso século XXI, no plano não só religioso, mas político, social e sobretudo humano. E note-se que conheci pessoalmente muitos Papas, de Paulo VI a Bento XVI.
- A vida num casal, como sabe, é uma vida que se baseia no respeito mútuo. A minha mulher, por razões que são conhecidas, pelo desastre do meu filho, de ver o filho à morte, teve uma conversão. Tinha talvez uma base lá dentro, que não tinha dado por isso. Mas a verdade é que o facto de ela se converter não quer dizer que o filho, que foi a causa da conversão, esteja convertido ou que eu seja convertido. Na família só a minha mulher é que é católica.
- O Papa Francisco em poucos meses tornou-se uma personalidade religiosa excepcional. É hoje visto como um dos mais esperançosos Papas da Igreja Católica, desde a última guerra mundial. E, talvez por isso, haja quem pense, dado o seu dinamismo e popularidade, que alguém o possa querer matar. Não faltarão membros da própria Igreja ou pagos para isso, que estão a ser postos em causa, que pensem nessa hipótese, em consequência da sua acção renovadora. Mesmo no Vaticano, não tenho dúvidas disso.