Os atuais alunos da escola pública podem vir a ter, no futuro, uma redução salarial na ordem dos 5%. A estimativa é feita pelo especialista em economia do trabalho Hugo Vilares, em declarações à Renascença.
Este professor da Faculdade de Economia do Porto fez as contas aos efeitos de dois anos de pandemia, falta de professores e ao impacto de um ano letivo que tem sido marcado por sucessivas greves. Segundo este especialista, desde o início deste ano letivo já se cumpriram mais de 40 dias de paralisações.
“A grande literatura que existe sobre o valor de um ano de educação estima que o salário das crianças aumenta entre 8% e 10% por mais um ano de educação. Contando que 20% a 25% [deste ano letivo] foi à vida, estamos a falar de 4% a 5% facilmente”, explica Hugo Vilares à Renascença.
Questionado sobre se esta perda não pode ser recuperável, o professor universitário diz que “é difícil” e que, para tal, seria “preciso haver um programa próprio”, mostrando-se pouco confiante na existência desse programa.
“Falou-se em programas de recuperação de aprendizagem na sequência da pandemia, só que, passado um ano, estamos neste problema outra vez, estamos aqui a gerar uma pandemia de greves”, lamenta.
Problema afeta mais alunos sem condições de recuperar
Hugo Vilares assegura que “estamos a falar de um problema sério” que atingirá sobretudo os mais frágeis.
“Uma criança com seis anos que entrou na escola em 2020 já leva disrupções sérias no seu processo de aprendizagem de dois, três anos e isso tem impactos muito significativos que afeta acima de tudo aquelas crianças que não têm condições de tentar recuperar desta disrupção: não têm condições para ter explicações, não têm apoio em casa que vá trabalhando com as crianças aquilo que falta na escola”, refere.
Mas não serão só os alunos de hoje, profissionais de amanhã que são prejudicados, é o país, no seu todo, refere o especialista, lembrando que “normalmente os salários representam 40% a 50% do Produto Interno Bruto”.
“Estamos a atravessar um momento muito difícil em que o investimento que estamos a fazer não tem a qualidade que deveria ter por problemas a que as crianças não deviam estar expostas. Há problemas que não podemos evitar, como a pandemia, mas este [as greves] provavelmente podia ser minorado ou evitado”, remata.
A Renascença procurou saber junto do Ministério da Educação quais os dados exatos sobre o impacto das greves nas escolas, desde o início do ano letivo, nomeadamente quantas escolas fecharam e quantas aulas ficaram por dar, mas não esses números não foram revelados.