No discurso mais aplaudido e que levantou o Congresso, o presidente da câmara de Lisboa, Carlos Moedas, pediu a Rui Rio que tivesse um "inconformismo moderado" e consiga "vencer sem os extremos, construir sem destruir". Ficou claro o conselho para o líder do PSD: descanse lá o eleitorado de centro e vença as legislativas de janeiro sem precisar do Chega.
Moedas foi praticamente caso único no Congresso a fazer este alerta e nem sequer nomeou o Chega ou o seu líder André Ventura. E tão depressa entrou pelo Congresso adentro como saiu e não se juntou assim ao desafio unânime - de Luís Montenegro a Poiares Maduro, de Cristóvão Norte ao próprio Rui Rio - para que o PS diga se se entende com o PSD no caso de uma vitória com maioria relativa dos social-democratas.
Uma estranha e venenosa aliança entre Rio e os críticos mais próximos a bem de uma vitória a 30 de janeiro, que todos parecem agora estar certos. Ou como disse Paulo Rangel: um objetivo "absolutamente convicto" de que é possível.
Os críticos colocam assim pressão no líder para vencer as eleições e ao mesmo tempo pressionam uma resposta do PS e, sobretudo de António Costa. Para o primeiro-ministro significaria sempre admitir que a "maioria estável reforçada e duradoura" pedida pelo secretário geral socialista pode estar em causa.
Em habilidade, Rio tira-se da encruzilhada de clarificar um eventual entendimento com o Chega, de cujo discurso até se aproximou na intervenção de encerramento - ao exigir apoios sociais "apenas para quem deles verdadeiramente necessita" - para lançar o PS numa encruzilhada: ou se cola de vez aos habituais parceiros à esquerda ou admite que pode entender-se com o PSD.
Em habilidade, Rio finge uma união no partido, que, por agora, tem o conforto de Luis Montenegro - que assume que o seu "recato acabou" - e de Paulo Rangel, unidade ou paz podre que pode apenas durar até ao final de janeiro, dependendo sempre do resultado eleitoral.
Uma estratégia que pode ter conseguido apagar o facto de Rui Rio não ter apresentado uma única proposta para o país no discurso de encerramento que proferiu em Santa Maria da Feira, com o líder social democrata a falar apenas na necessidade de resolver problemas em alguns sectores como a Saúde ou a Educação e a admitir, por exemplo, "devolver dignidade e as condições de trabalho" aos professores dando sinal a uma fatia largamente descontente do eleitorado.