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Há doze anos, Pedro Santana Lopes era líder do PSD. E primeiro-ministro. Hoje, reconhece o seu partido “passou por um ano e tal muito difícil” e ainda está a “acordar de um sonho mau”.
No capítulo eleições autárquicas, Santana fala sobre a candidata do PSD a Lisboa (câmara que liderou) e diz que não conhece as suas ideias para a cidade. Além disso, reconhece, “em circunstâncias normais não é compreensível” ainda não haver um programa. “Ainda para mais quando a mim me foi dito que se eu tivesse sido candidato a Lisboa teria que deixar a Misericórdia até Fevereiro, Março, comigo há sempre estas urgências todas. Estamos quase em Julho. E o que é que lhes aconteceu? Estão em Marte? Estão em Júpiter?”
Há um mês, escreveu que em Lisboa, Porto, Sintra e Coimbra se vai jogar em boa medida a leitura política da noite das autárquicas. Se o PSD perder estas câmaras, isso é suficiente para abrir uma crise no partido? Torna impossível uma vitória nas legislativas?
Depende da dimensão dos resultados em cada uma das autarquias. Mas, por princípio, a liderança deve continuar. Autárquicas não devem ter influência em questões nacionais. Pedro Passos Coelho deve disputar as próximas legislativas. Mas temos congresso para o ano e, portanto, não sei. Pelo que vou lendo, não sei se alguém se quererá abalançar a disputar a liderança independentemente de os resultados serem melhores ou piores.
Porque há muita gente que já dá como certas as derrotas em Lisboa e Porto...
Mas Lisboa e Porto... Lisboa já foi perdida há anos e Porto já não era do PSD.
Sintra e Coimbra também não. Por essa ordem de razões...
Por isso é que falar em derrotas... temos de pensar também no que seria uma derrota do PS nas autárquicas. Se não as ganhar, em vez de ser um dia mau para o PSD, pode ser um dia mais complicado para a liderança do PS. Temos de pensar que está tudo em aberto. Pelo que conheço, em Coimbra está tudo em aberto, em Sintra também. Em Lisboa e Porto, as sondagens apontam para confirmação dos actuais presidentes. E acho que sim, que são as câmaras com maior impacto na leitura que se fará. E depois há o conjunto.
Já o li dizendo que o PSD pode ter melhor resultado do que se pensa. E que não, que com o défice a diminuir e a economia a crescer, as autárquicas serão difíceis. Qual é a sua expectativa?
Eu disse as duas coisas, mas não contraditoriamente. No primeiro caso falava de Lisboa. Dizia-se que a líder do CDS ficaria provavelmente à frente do PSD. Achei sempre muito pouco possível e hoje não ouço a mesma conversa. Estou convencido de que apesar da ausência de campanha generalizada, que é um fenómeno muito interessante, a expectativa não será essa. Depois, para o Governo, acho que é assim: tem havido um clima de esperança, de confiança. Na última semana o clima mudou, esse factor esperança atenuou. Porque isto em política é como na vida, as coisas podem mudar de repente.
Acha que foi por isso que Morais Sarmento surgiu como candidato numa secção de Lisboa apresentando-se como um “grito de urgência”?
Uma lista de delegados, não é? Acho que quando não há oportunidade de se fazer estas coisas a nível nacional, brinca-se um bocadinho a nível local — andam em movimentações. É interessante, são um conjunto de pessoas que já devem ter saudades dessas coisas, que têm andado afastadas...
Conhece muito bem Rui Rio e Morais Sarmento. Ambos estiveram consigo, na direcção do PSD e no Governo. Vê que algum deles consiga ganhar a liderança a Passos Coelho?
Não acredito. Porque Passos Coelho tem o apoio da grande maioria dos militantes. E os líderes do PSD são eleitos em directas, ainda, não sei quanto tempo durará esse método de eleição, mas é assim. E se for, Passos Coelho ganhará.
Gostava que mudasse esse método de eleição?
Fui um grande responsável pela sua introdução e hoje não faço um balanço positivo. Por causa de algum aparelhismo e alguma mobilização de hordas de votantes que não são sequer militantes, com moradas de conveniência em muitos casos...
O aparelho perverteu as regras?
Sim. O método é puro, mas acho que foi muito pervertido. Talvez seja aconselhável voltar àquela mediação da eleição em congresso.
Primárias ainda menos?
É outra coisa. Se fossemos para primárias, eu teria simpatia por isso. Mas já ouvi várias vozes a torcerem-se, por não quererem imitar o PS, não sei quais as razões.
Viu o que aconteceu em França?
Vi, vi. Ganharam os que não foram a primárias — é muito interessante. Mas eu gosto. Os partidos precisam de uma renovação profunda. Os partidos maiores estão dominados por lógicas aparelhísticas. É muito interessante que os candidatos a presidentes de junta, antes, eram os homens e senhoras respeitadas nas terras, agora são os jovens dos aparelhos que se candidatam. Os partidos precisam de uma renovação de equipas, actualização ideológica. E num plano quase de urgência.
Morais Sarmento disse que o PSD está “apático”. Concorda?
O PSD passou por um ano e tal muito difícil. Ganhou as eleições e, de repente, viu nascer em Portugal uma solução que não considerava possível. Demorou a adaptar-se. Não vou dizer apático, mas que ainda está a acordar de um sonho mau, é manifesto.
E o líder? Já acordou?
O líder esforça-se. Julgo que é manifesto que Passos Coelho é mais primeiro-ministro do que líder da oposição. Cada um tem o seu perfil.
O resultado do esforço é mau.
Às vezes é melhor, outras é menos bom. Ele próprio reconhecerá que não tem corrido bem. Os líderes da oposição normalmente têm sondagens muito más. Mas vou dizer-lhe assim: enquanto o dr. Passos Coelho for líder, salvo alguma circunstância excepcional, eu estarei ao seu lado, porque ele merece que o partido lhe dê esse crédito, dadas as provas que deu enquanto primeiro-ministro e os serviços que prestou ao país.
Passos escolheu pessoalmente a candidata a Lisboa. Faz sentido que neste momento Teresa Leal Coelho não tenha sequer apresentado um programa para a capital?
Em circunstâncias normais não é compreensível, tem de haver uma razão que eu desconheço. Ainda para mais quando a mim me foi dito que se eu tivesse sido candidato a Lisboa teria que deixar a Misericórdia até Fevereiro, Março, comigo há sempre estas urgências todas. Estamos quase em Julho. E o que é que lhes aconteceu? Estão em Marte? Estão em Júpiter? Nunca mais disseram nada, nunca mais estão no terreno.
Já conhece as ideias de Teresa Leal Coelho?
Não.
Leu a entrevista que ela deu ao Expresso?
Quando?
Há três semanas. E agora à TSF.
Tenho ideia que sim, mas não retive. Em termos de opções para a cidade, não conheço, com franqueza.