Carlos Moedas disse várias vezes que é a única alternativa credível para poder retirar Fernando Medina da Câmara Municipal de Lisboa, mas a troca de palavras mais acesa que teve no debate desta noite, na SIC Notícias, foi com o candidato da Iniciativa Liberal, Bruno Horta Soares.
O debate começou com uma primeira ronda de intervenções sobre a polémica da transmissão de dados pessoais de manifestantes à Rússia, com Medina a defender a sua atuação e a afirmar que “em todas as grandes organizações há problemas. A questão é saber se os responsáveis identificam com verdade os problemas e tomam medidas. Foi o que aconteceu. Realizámos uma auditoria em tempo recorde, verificámos que infelizmente havia outros casos e corrigimos o que havia para corrigir”.
Carlos Moedas, contudo, discordou e voltou a dizer que fosse ele o autarca tinha-se demitido. “Em qualquer país da Europa o presidente da Câmara tinha-se demitido. Os políticos têm de assumir o erro político e Medina teria de se demitir a ele, e não ao técnico. Se fosse comigo não demitia ninguém, demitia-me eu”, sublinhou, dizendo que a sua própria reação à questão pode ter sido influenciada pelos anos que passou na Comissão Europeia, pois considera que se trata da defesa da dignidade da pessoa, um valor da União.
Já Bruno Horta Soares diz que o problema é Fernando Medina nunca ter trabalhado sem ser na política e disse que a sua atitude revela que ainda não percebeu a gravidade do que se passou.
“Medina ainda não percebeu a gravidade daquilo que aconteceu. Trabalho há 20 anos com modernização de empresas, e percebi o impacto que as tecnologias tiveram nas organizações. Medina nunca teve uma profissão alem de ser político. Do ponto de vista de liderança ele não percebe que o que aconteceu tem a ver com o cumprimento do Regulamento Geral de Proteção de Dados, algo que todas as empresas do país tiveram de fazer”, afirma o candidato da IL.
O preço desta ignorância, acrescenta, é que a Câmara tem processos sem tribunal no valor de centenas de milhões de euros e arrisca-se a pagar multas que podem representar um rombo orçamental.
Questionado sobre se não teria feito sentido, então, coligar-se com Carlos Moedas para derrotar Medina, Bruno Horta Soares foi enfático ao dizer que o partido não quer ter nada a ver com “essa sombra, aquilo que ele representa, a mochila de partidos” que advém do facto de ele ser “o candidato escolhido por Rui Rio”.
“Não é só Carlos Moedas, é o que ele representa”, disse.
Moedas não gostou e disse que ao escolher correr sozinha a Iniciativa estava de facto a fazer o jogo de Fernando Medina. “A IL no fundo provou que pôs o partido à frente de Lisboa. Numas eleições autárquicas quem ganha é quem fica à frente da Câmara. O único outro candidato que o pode fazer sou eu. A IL escolheu estar do lado de Fernando Medina. Se quisesse tirá-lo, teria de me apoiar.”
Mas Bruno Horta Soares disse que isso não é verdade. “A escolha agora, segundo as sondagens, está entre dar um quinto ou sexto vereador a Moedas, ou dar a oportunidade a Lisboa de ter o primeiro vereador Liberal. Rui Rio é o primeiro a dizer que se Carlos Moedas tiver um mau resultado se demite. Acho que os Lisboetas vão fazer esse favor ao país de dar um mau resultado a Carlos Moedas para Rui Rio se demitir.”
Medina Sorriu
Se a discussão entre Bruno Horta Soares e Carlos Moedas dá razões a Medina para sorrir, mais teve quando ouviu o candidato da CDU, que mais uma vez concorre sozinha e não coligada com o PS, a reivindicar a responsabilidade por medidas como o Programa de Arrendamento a Custos Acessíveis, a regulamentação do alojamento local ou o passe social intermodal.
Medina não quis atacar João Ferreira, mas admitiu estar a sorrir “por causa de uma apropriação excessiva feita” pelo candidato comunista. “A iniciativa fundamental esteve sempre na maioria socialista. Não estou a retirar a importância à CDU, só a sorrir perante uma apropriação um pouco excessiva.”
Beatriz Gomes Dias teve uma passagem mais discreta pelo debate, mas foi firma na defesa de soluções de habitação 100% públicas e, no extremo oposto, Nuno Graciano revelou a inexperiência de quem se inicia nas lides políticas, mas centrou o seu discurso no ataque à corrupção, elencando casos suspeitos na Câmara entre colaboradores próximos de Medina, e atacou ainda o projeto da construção de uma nova mesquita na cidade que, diz, “representa um perigo real do Islão Radical no centro de Lisboa.
Vários dos candidatos recordaram o facto de Medina não ter cumprido a sua promessa eleitoral de fazer 6.000 habitações acessíveis, não aceitando como desculpa o facto de o projeto ter sido chumbado, em parte, pelo Tribunal de Contas, mas o atual Presidente da Câmara garante que se continuarão a procurar soluções e que esta vai continuar a ser uma prioridade, tal como as creches gratuitas.
Menos aeroporto na Portela
Se houve espaço para divergência, numa coisa quase todos os candidatos estiveram de acordo. Menos aeroporto na Portela.
O novo aeroporto foi um dos temas escolhidos pela moderadora do debate, Clara de Sousa. Quase todos querem que a Portela vá sendo lentamente desmantelada e que, entretanto, sirva de apoio. Ao Montijo ou a Alcochete? Isso não é claro. Nuno Graciano diz que confia nos especialistas, Medina diz que pende agora para Alcochete e João Ferreira diz que Montijo nem sequer é já hipótese.
Para Manuela Gonzaga, do PAN, nem uma nem outra. “Temos em Beja um aeroporto feito e perfeito”, afirma, salientando que basta melhorar o acesso por comboio ou por autoestrada. Já o IL diz que quer todos os aeroportos possíveis, incluindo a manutenção da Portela, desde que isso possibilite a vinda de mais turistas, que são tão importantes para a cidade.