"Vai correr mal". Provas de aferição do Ensino Básico arrancam com críticas
02-05-2023 - 06:28
 • Fátima Casanova

Muitas escolas não têm todo o equipamento exigido para as provas de educação física. As críticas não se ficam por aqui. Arlindo Ferreira, autor do blogue ArLindo, um dos mais reputados no setor da educação, considera também um risco fazer as provas em formato digital.

As provas de aferição do 2.º ano do Ensino Básico, que começam esta terça-feira, têm muito para correr mal, receiam diretores e encarregados de educação.

Muitas escolas não têm todo o equipamento exigido para as provas de educação física, por exemplo. Os constrangimentos não são de agora. Já em 2017, altura em que os alunos foram chamados a fazer estas provas pela primeira vez, que as escolas se debateram com a falta de material.

É o caso do plinto para a prova de ginástica, denúncia Arlindo Ferreira, diretor do agrupamento de escolas Cego do Maio, na Póvoa de Varzim.

Neste caso estou a falar do plinto, que a maioria das escolas do 1.º ciclo não tem, portanto é algo que é preciso fazer circular de um lado para outro. Infelizmente, há um desajustamento porque quem faz as provas de aferição dificilmente conhece a realidade das escolas do nosso país.”

Provas digitais? "Uma prova escrita nesta idade seria mais sensato"

As críticas não se ficam por aqui. Arlindo Ferreira, autor do blogue ArLindo, um dos mais reputados no setor da educação, considera também um risco fazer as provas em formato digital.

A minha perceção é que vai correr mal. Ainda não fizemos um teste para tentar verificar a capacidade de cento e tal alunos fazerem o teste à mesma hora, utilizando a mesma rede de internet da escola. Vamos ter de procurar a solução dos alunos usarem a internet deles, em alguns locais da escola não se apanha rede, esse vai ser um problema e mesmo a rede de wi-fi da própria escola, não me parece que consiga aguentar tantos alunos ao mesmo tempo para fazer a prova”, afirma Arlindo Ferreira.

“Mais do que o acesso à internet, os próprios equipamentos já não são novos e as suas baterias não aguentam os 90 minutos para a realização de uma prova. As salas de aula, quando muito, têm duas tomadas e duas tomadas para carregar 20 computadores não me parece que se consiga facilmente”, sublinha o professor.

Isto já para não falar que não encontra justificação para alunos do 2.º ano terem de fazer estas provas. A Arlindo Ferreira já chegaram relatos de pais que não querem que os filhos as façam, “porque muitos deles não têm uma destreza grande para as ferramentas digitais”.

Arlindo Ferreira considera normal que, com sete anos de idade, os alunos não saibam trabalhar com o computador e defende que a prova deve ser escrita.

“Fazer uma prova de aferição no computador não é o mesmo que brincar no telemóvel. Isto vai ter algumas implicações no comportamento dos alunos, alguns podem sentir-se frustrados por não conseguirem e muito sinceramente eu acho que fazer uma prova escrita nesta idade seria mais sensato, porque é nesta idade que os alunos estão a adquirir a aprendizagem da escrita e da leitura”, sublinha.

"Prova causa uma grande perturbação no funcionamento das escolas"

O diretor do agrupamento de escolas Cego do Maio, na Póvoa de Varzim, é muito crítico quanto à realização de provas de aferição no segundo ano. Considera que é uma violência sujeitar crianças tão pequenas a estas provas, ainda por cima em formato digital.

Arlindo Ferreira diz ainda que aplicar as provas ao 2.º ano causa perturbação no funcionamento das escolas.

“Tem uma logística tremenda de preparação de provas. Para além de ocupar os professores titulares de cada uma das turmas, ocupa também um conjunto de professores, que são de outros níveis de ensino, para fazer a classificação das provas o que vai fazer com que realmente algumas turmas fiquem sem aulas, para que os alunos do 2.º ano possam fazer as provas. Isto causa uma grande perturbação no funcionamento das escolas.”

Prova tem causado alguma ansiedade "que não é boa"

André Julião é pai de um aluno que vai fazer a prova de aferição do 1. ciclo, esta terça-feira. A criança vai realizar o exame, apesar do encarregado de educação criticar as provas em idades tão precoces.

“Dada a importância que tem sido dada, por parte de professores e de toda a escola, relativamente a estas provas, isto tem causado alguma ansiedade nos miúdos e essa ansiedade não é boa, nem para o dia a dia deles nem para as aprendizagens.”

O filho de André Julião está habituado a trabalhar com o computador, que uma vez por semana leva para a escola que frequenta no Carregado, concelho de Alenquer. Ainda assim, nem sempre as coisas correm bem e os pais são chamados a resolver os problemas.

“Há falta de técnicos e professores de Informática que deem apoio nas escolas quando as coisas não correm bem e isso aconteceu-me", relata André Julião.

"No meu caso concreto, em que o meu filho colocou uma password, que depois não sabia qual era e eu tive de me deslocar à escola num determinado horário para resolver esse problema. Não havia técnicos de informática disponíveis. Teve de ser um professor que teve de dar um pouco do seu tempo para resolver este problema e de outros pais na mesma situação”, afirma o pai de um aluno que frequenta o 2.º ano e que, apesar de muito crítico, vai deixar o filho fazer as provas de aferição, que arrancam esta terça-feira no 1.º ciclo do Ensino Básico.

Até 20 de junho, mais de 250 mil alunos do 2.º, 5.º e 8.º anos vão testar conhecimentos, pela primeira vez, em formato digital.

Consulte o calendário dos exames e das provas de aferição no site do Instituto de Avaliação Educativa (IAVE).