O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, não quer dar importância ao encontro que teve com Paulo Rangel na terça-feira, e que foi criticado pelo atual líder do PSD, Rui Rio.
Em declarações aos jornalistas, após uma visita a uma fábrica de automóveis, no distrito de Aveiro, o Presidente disse que não entende a polémica que se criou e defendeu a sua opção de ter recebido o candidato à liderança do PSD.
"Estamos num momento em que o país decide se tem orçamento ou não, em que pode acontecer termos de assistir a uma dissolução da Assembleia da República e a eleições antecipadas. Isto é o que é importante, o que não é importante é as pessoas não perceberem que o Presidente da República é como é. Eu sou como sou e falo com toda a gente , quando me pedem audiências de cortesia recebo, faço isso há seis anos."
Marcelo justificou o facto de ter recebido Paulo Rangel com a vontade que este teve de explicar a sua decisão de se candidatar à liderança do PSD. "Quando há alguém que, perante o facto de eu ter dito que tinha sabido pela Comunicação Social das decisões dos dois candidatos até agora conhecidos à liderança de um determinado partido, me pede uma visita de cortesia, como quem diz que é para me explicar que de facto não disse por esta e aquela razão, o Presidente da República aceita a audiência, como aceita as audiências mais variadas, de todos os partidos e como ao longo da crise falou, em momento crucial, com o líder do PSD e como voltará a falar se houver dissolução do Parlamento."
O Presidente desdramatiza, assim, uma situação que causou polémica, com Rui Rio a comentar esta quarta-feira que "não é minimamente aceitável" que Rangel tenha estado em Belém para falar de prazos eleitorais. Marcelo não falou do teor da conversa, mas garantiu que não tem qualquer vontade de se imiscuir na vida interna dos partidos e acrescentou que seria mais grave se tivesse recebido Paulo Rangel depois da votação do orçamento, pois aí sim poderia ser acusado de interferência no processo de escolha do próximo líder do maior partido da oposição.
Há uma coisa positiva, mas só uma
Sobre a votação do Orçamento, Marcelo Rebelo de Sousa voltou a não querer antecipar-se à votação no Parlamento, marcada para esta tarde, mas admitiu que quando recebeu em audiência, antes do debate, o PCP e o Bloco de Esquerda, ficou logo com a ideia de que "estava muito difícil essa viabilização".
Sobre a eventual data de eleições antecipadas o Presidente também optou por não tecer qualquer comentário, dizendo que primeiro seria necessário ouvir todas as partes interessadas, incluindo os partidos e o Conselho de Estado.
Questionado sobre se havia algum aspeto positivo de uma eventual dissolução da Assembleia da República, Marcelo Rebelo de Sousa disse que sim, mas pouco. "Há uma coisa positiva. Se a Assembleia da República entende que não está em condições de aprovar um orçamento que é fundamental para o país, o positivo é devolver aos portugueses para eles dizerem o que pensam relativamente a uma futura assembleia que aprove um orçamento que é fundamental para o país."
"Mas isso é menos positivo do que seria haver um orçamento já. A diferença entre o já e o depois é o que se chama tempo parcialmente perdido. Mas há uma coisa positiva, que é ser o país a dizer o que pensa", concluiu.