Henrique Raposo considera incompreensível que Portugal, um país sem inimigos naturais "num raio de dez mil quilómetros", tenha 37 tanques Leopard 2, a maioria inoperacional, estacionados na garagem.
"Os generais queriam brincar às guerras em Santa Margarida e nenhum político teve coragem de lhes dizer que nós não precisamos de 40 carros de combate pesados", critica, no espaço de comentário desta sexta-feira, no programa As Três da Manhã, da Renascença.
Henrique Raposo equipara a compra dos Leopard 2 de última geração, que segundo os números de 2007 têm um custo unitário superior a cinco milhões de dólares - "são vários palcos" da Jornada Mundial da Juventude, ironiza -, à parábola do homem "que compra um Ferrari ou um barco quando chega à crise de meia-idade e esquece-se que aquilo é muito caro manter".
"Depois, cai no ridículo de aquilo ficar parado na marina ou na garagem. O ponto é mesmo esse: porque é que nós comprámos 40 carros de combate de topo pesadíssimos, caríssimos? A Espanha é uma ditadura militar que nos vai invadir? Não é de todo. Não temos um inimigo natural num raio de dez mil quilómetros", assinala.
Para Henrique Raposo, este caso ilustra a "incapacidade crónica" de Portugal de "gerir dinheiros públicos de maneira racional".
"Parece que as pessoas quando chegam às lideranças do Estado perdem noção de que aquele dinheiro é nosso e não é para gastar à toa", observa.
O comentador lembra que Portugal tem a maior área económica exclusiva no mundo - não em terra, mas sim no mar: "E como é que está a nossa Marinha? Também está nas docas, depauperada, sem peças."
"Temos uma Força Aéra com F-16 dos quais não precisamos, temos Leopard no Exército de que não precisamos. E somos incapazes de ter um político que pense assim: 'Não, os generais de Santa Margarida não vão brincar às guerras com tanques. Nós temos pouco dinheiro, temos é de investir na Marinha.' Nós não somos capazes de defender o nosso mar, não temos navios-ciência capazes de levar a que Portugal seja capaz de liderar as descobertas necessárias que há para fazer no mar, do ponto de vista económico, cultural e científico", critica.
No final de contas, o ministro dos Negócios Estrangeiros comunicou o envio de quatro veículos Leopard 2 e, logo a seguir, teve de voltar atrás com a palavra, porque os carros, afinal, não cumprem os requisitos da NATO para serem enviados para um cenário de combate. Uma história em que Portugal "fica mal".
"Nós estamos mal desde o início nesta questão da NATO. Somos um parente pobre que é incapaz de auxiliar os nossos aliados. E não é auxiliar a Ucrânia, é auxiliar os outros aliados que estão a ajudar a sério a Ucrânia", atira Henrique Raposo.