Algarve no topo da pobreza mas cheio para a passagem de ano
28-12-2023 - 08:37
 • João Mira Godinho , Olímpia Mairos

Apesar do PIB da região estar acima da média nacional, o Algarve continua a figurar no topo dos índices de pobreza. Saiba porquê.

Depois do Natal começa a contagem decrescente para a passagem de ano. O Algarve já tem história de ser um dos locais de eleição para a noite de réveillon e não vai ser diferente na entrada para 2024.

Nesta altura, os hotéis estão com elevada procura, mesmo acima do verificado no ano passado. Mas na visão do presidente da Associação de Hotéis e Empreendimentos Turísticos do Algarve (AHETA), Hélder Martins, o cenário podia ser ainda melhor se estivesse programado um grande evento na região.

“Unidades hoteleiras que têm programas de fim do ano com alojamento, com animação, estão com excelentes taxas de ocupação, muitas delas cheias. Quem não tem programa de fim do ano, e se resume à oferta de alojamento, tem alguma procura”, adianta em declarações à Renascença.

Segundo este responsável, “é exatamente nesta semana que se concretizam mais reservas, porque são pessoas que vêm passar o fim do ano sem a procura de um espaço com passagem de ano organizada e que, em nossa opinião, utilizarão aquilo que são as passagens de ano públicas que há no Algarve”.

O presidente da Associação de Hotéis e Empreendimentos Turísticos do Algarve assinala que a região é um destino tradicionalmente muito procurado pelos portugueses para a passagem de ano, considerando que “se o Algarve tivesse um evento âncora que puxasse muito do destino seria com certeza diferente”.

“Neste momento a nossa expectativa é que estamos acima do ano passado e poderemos, quer no global do mês, quer naquilo que é a ocupação da passagem de ano, superar os dados de 2022”, adianta.

Nestas declarações à Renascença, Hélder Martins diz que no Algarve se verificam “preços que, de facto, não estão acessíveis a muitas bolsas” e “preços que estão acessíveis à maior parte das bolsas”.

“Nós conseguimos ter uma panóplia de oferta no Algarve, agora e sempre, que permite chegar a qualquer bolsa, seja ela mais recheada ou não. As unidades que têm pacotes mais caros, regra geral, estão completamente cheias”, diz Hélder Martins.

Porque figura o Algarve no topo dos índices de pobreza?

Apesar deste cenário, e apesar do PIB da região estar acima da média nacional, o Algarve continua a figurar no topo dos índices de pobreza. Uma contradição que Brandão Pires, primeiro-secretário da Associação de Municípios da região, explica pela forma como é calculado o PIB e pelas muitas casas que existem na região.

“Atribui-se um valor a todas as habitações existentes num determinado território. Supõe-se que aquela casa gera um determinado rendimento e multiplica-se esse rendimento médio pelo número de habitações existentes. O Algarve tem 470.000 pessoas e devia ter para manter os parâmetros nacionais 200 e tal mil habitações não tem 400. 000 habitações. Tem aqui um acréscimo de 100 e tal mil habitações que vão direitinhas para o rendimento do PIB, e, portanto, a acresce esse valor ao PIB”, explica.

Brandão Pires também destaca que muito do PIB produzido no Algarve não fica na região.

“Uma coisa é o que é aqui gerado, outra coisa é o que é retido na região e que é distribuído na região. É que muito é aqui gerado, mas sai imediatamente”, realça.

Também Hélder Martins, presidente da Associação de Hotéis e Empreendimentos Turísticos do Algarve, sinaliza que muita da riqueza produzida na região nem sequer fica em Portugal.

“Não vale a pena tapar o sol com a peneira. O Algarve tem hoje um conjunto de unidades hoteleiras, de empreendimentos, que são detidos por fundos que, nós próprios não sabemos onde é que eles estão, estão noutra parte qualquer do mundo e, portanto, utilizam o Algarve como uma fonte de negócio de rendimento”, explica.

O presidente da maior associação hoteleira do Algarve aponta o dedo ao aumento do custo de vida e recusa as críticas sobre os baixos salários praticados na hotelaria.

“A AHETA chegou a acordo o ano passado com a estrutura sindical, com quem temos um contrato coletivo de trabalho, para um aumento significativo dos salários. Estamos a negociar, neste momento, um novo aumento para este ano”, diz, acrescentando que “o problema é que o custo de vida aumentou brutalmente e as famílias têm dificuldade, mesmo que tenham aumentos em enfrentar isso”.