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Nunca pensámos que iríamos viver tempos assim. Achávamos que tudo isto só era possível em tempos de cólera ou peste. Tínhamos quase a certeza de que bastava a tecnologia e as descobertas médicas para nos salvarmos. Mas um vírus obrigou o mundo a ajoelhar-se. Quem teria imaginado?
Eis-nos aqui, frágeis, muito frágeis. Ninguém tem a garantia de conseguir fintar os contactos sem ser infetado. Para além dos que ficaram doentes e de todos os que morreram, a maior parte das pessoas estão vivas, mas parece que já não têm presente nem futuro. Pelo menos parece. A economia está pelas ruas da amargura e demasiadas pessoas estão sem trabalho. E aí é onde está a maior parte das vítimas.
Acho que, no início, todos nós tratámos a pandemia com uma certa ligeireza. Pensávamos que iria ficar na China. Agora, pensamos nos amigos que adoeceram e nos conhecidos que morreram.
Precisamos de nos proteger até à descoberta de uma vacina. Para além das decisões das autoridades, às vezes discutíveis, para o bem ou para o mal, mais permissivas nalgumas áreas ou muito restritivas noutras, temos a obrigação de fazer a nossa parte, de nos protegermos.
Além da teoria da conspiração, da chamada ditadura sanitária que às vezes parece ser promovida por quem se aproveita do coronavírus para fazer negócios à custa dos nossos bolsos e medos, uma coisa é certa: o vírus existe e pode fazer muito mal, principalmente aos mais vulneráveis.
Acho que se cada um de nós se comportasse de uma forma mais prudente e mais atenciosa com os outros, como se fôssemos todos positivos assintomáticos, certamente teríamos um papel muito mais importante na prevenção da disseminação do vírus.
Dirijo-me também aos fiéis espiritualmente mais arrogantes, ou seja, àqueles que não acreditam na existência do vírus ou acham que tudo não passa de uma conspiração e uma manipulação. Conheci pessoas, leigos e padres, que acreditavam na mesma coisa. Alguns deles já não estão cá para contar a história. Quando verificaram, na própria pele, como esse vírus podia ser traiçoeiro, já era tarde demais.
Não tentemos Deus através da nossa arrogância espiritual. Amor significa também prevenção e cuidar da vida do nosso próximo. Deus vai salvar-nos dessa pandemia, mas não sem a nossa colaboração. Temos de nos envolver.
*Francisc Dobos tem 44 anos e é padre na arquidiocese católica de Bucareste, na Roménia, onde é responsável pela comunicação.