O chefe da diplomacia europeia acusou, esta terça-feira, a Rússia de estar a bombardear a sua própria população com desinformação, enquanto bombardeia a Ucrânia, recorrendo de forma sistemática a mentiras para justificar a invasão e distorcer a realidade no terreno.
Intervindo num debate no Parlamento Europeu, em Estrasburgo, França, sobre "interferência estrangeira nos processos democráticos na UE", Josep Borrell advertiu que "a manipulação de informação é algo que a máquina de propaganda russa está ativamente a utilizar", até para esconder o sofrimento da população civil ucraniana e os ataques de que é alvo.
"A acompanhar a sua campanha militar na Ucrânia, a Rússia está a espalhar informação falsa entre a sua própria população sobre a razão desta invasão e qual a situação na Ucrânia. Além de estarem a bombardear casas, infraestruturas, pessoas, também estão a bombardear as mentes" com desinformação, denunciou o Alto Representante da UE para a Política Externa e de Segurança.
Borrell sublinhou que, "ao longo de semanas, muito antes de a invasão começar, os órgãos de comunicação do Kremlin estavam a preparar o terreno", designadamente "retratando os russos como vítimas de genocídio", para justificar a intervenção militar.
O chefe da diplomacia apontou que, entre as mentiras propagadas de forma sistemática, o Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, foi acusado de ser "um criminoso de guerra, um fantoche nas mãos do ocidente" e a intervenção militar justificada para "livrar a Ucrânia dos nazis que estão a cometer um genocídio contra a população russa".
Apontando que "é este o género de mentiras que estão a espalhar de forma sistemática", Borrell disse que Moscovo até argumenta que "a Ucrânia está a bombardear os seus próprios cidadãos e a provocar incidentes nucleares" para depois responsabilizar a Rússia.
O Alto Representante lembrou também a crescente censura a que se assiste na Rússia, onde todos os órgãos de comunicação independentes estão a ser silenciados, tendo mesmo sido adotada "uma lei que criminaliza o que designam de informação falsa sobre a guerra, com penas até 15 anos de prisão" e que condiciona também o trabalho "vital" dos jornalistas internacionais.
Argumentando que "esta agressão mostra bem como a UE deve prestar mais atenção à ingerência estrangeira e, sobretudo, à desinformação", Borrell adiantou que vai em breve "propor um novo regime horizontal que permitirá [à UE] sancionar os agentes malignos da desinformação".
"Isto fará parte de uma caixa de ferramentas mais ampla que reforçará a nossa capacidade de dissuasão e de ação", declarou.