Associação Quebrar o Silêncio diz que discurso da Igreja é ambíguo
03-03-2023 - 22:20
 • Lusa

O dirigente da associação Quebrar o Silêncio realçou, ainda, que o apoio psicológico a vítimas de abusos sexuais "tem de ser altamente especializado", exigindo "conhecimento sobre trauma".

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A associação Quebrar o Silêncio, que apoia homens e rapazes abusados sexualmente, classificou hoje como ambíguo o discurso da Igreja Católica portuguesa, questionando como vai ser operacionalizado o apoio psicológico prometido às vítimas.

"O discurso foi ambíguo", disse à Lusa o presidente da associação, Ângelo Fernandes, numa reação às conclusões da Assembleia Plenária extraordinária da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP), que hoje decorreu em Fátima para analisar o relatório da Comissão Independente para o Estudo dos Abusos Sexuais de Menores na Igreja Católica em Portugal.

"Ficamos na dúvida como é que o apoio psicológico vai ser garantido, em que circunstâncias e quem vai prestar esse apoio", afirmou Ângelo Fernandes, apontando a falta de "medidas mais concretas e detalhadas" no tempo.

O dirigente da associação Quebrar o Silêncio realçou, ainda, que o apoio psicológico a vítimas de abusos sexuais "tem de ser altamente especializado", exigindo "conhecimento sobre trauma".

Em comunicado, lido à imprensa pelo porta-voz da CEP após a reunião, o episcopado assegura que às vítimas, "se o desejarem", ser-lhes-á disponibilizado "o devido acompanhamento espiritual, psicológico e psiquiátrico".

A Comissão Independente para o Estudo dos Abusos Sexuais de Crianças na Igreja Católica validou 512 dos 564 testemunhos recebidos, apontando, por extrapolação, para um número mínimo de vítimas da ordem das 4.815.

Vinte e cinco casos foram reportados ao Ministério Público, que deram origem à abertura de 15 inquéritos, dos quais nove foram já arquivados, permanecendo seis em investigação.

Estes testemunhos referem-se a casos ocorridos entre 1950 e 2022, período abrangido pelo trabalho da comissão.


Se foi vítima de abuso ou conhece quem possa ter sido, não está sozinho e há vários organismos de apoio às vítimas a que pode recorrer:

- Serviço de Escuta dos Jesuítas , um “espaço seguro destinado a acolher, escutar e apoiar pessoas que possam ter sido vítimas de abusos sexuais nas instituições da Companhia de Jesus.

Telefone: 217 543 085 (2ª a 6ª, das 9h30 às 18h) | E-mail: escutar@jesuitas.pt | Morada: Estrada da Torre, 26, 1750-296 Lisboa

- Rede Care , projeto da APAV, Associação Portuguesa de Apoio à Vítima, que “apoia crianças e jovens vítimas de violência sexual de forma especializada, bem como as suas famílias e amigos/as”.

Com presença em Lisboa, Porto, Coimbra, Braga, Setúbal, Santarém, Algarve, Alentejo, Madeira e Açores.

Telefone: 22 550 29 57 | Linha gratuita de Apoio à Vítima: 116 006 | E-mail: care@apav.pt

- Comissões Diocesanas para a Protecção de Menores . São 21 e foram criadas pela Conferência Episcopal Portuguesa.

São constituídas por especialistas de várias áreas, recolhem denúncias e dão “orientações no campo da prevenção de abusos”.

Podem ser contactadas por telefone, correio ou email.

Para apoiar organizações católicas que trabalham com crianças:

- Projeto Cuidar , do CEPCEP, Centro de Estudos da Faculdade de Ciências Humanas da Universidade Católica

Se pretende partilhar o seu caso com a Renascença, pode contactar-nos de forma sigilosa, através do email: partilha@rr.pt