Entre 1980 e 2010 a economia chinesa cresceu cerca de 10% ao ano, em média. Foi o resultado da aposta de Deng Xiao Ping nos mecanismos do mercado. Naqueles trinta anos uma enorme quantidade de chineses abandonou as zonas rurais onde passavam fome para virem trabalhar nas regiões industrializadas do país. Mas esta grande migração interna terá naturalmente chegado ao fim, assim desparecendo um dos fatores daquele espetacular crescimento da economia.
No terceiro trimestre do corrente ano o PIB chinês cresceu apenas 4,9%, face a igual período de 2020. É o fim do “milagre económico” chinês? Provavelmente. A economia da China continua a dar sinais de dinamismo, embora sem atingir os números do passado.
O presente abrandamento económico na China tem também a ver com cortes de energia elétrica, que levaram inúmeras empresas a suspender a produção. Dois terços da eletricidade consumida na China têm origem na queima de carvão. O que provocou níveis assustadores de poluição nas cidades, travando a aprovação pelas autoridades de novas minas de carvão. Daí a atual escassez de carvão na China.
Por outro lado, o mercado imobiliário chinês está a passar por problemas. Tudo indica que a gigantesca imobiliária Evergrande não será resgatada pelo banco central chinês, que também procura limitar o excesso de crédito à habitação.
A China dispõe hoje de 800 mil “robots”, um em cada três existentes no mundo. Melhorar a produtividade é um dos principais objetivos de Xi Jinping; mas o ditador chinês pretende atingir esse objetivo sobretudo pela força coerciva do Estado e do partido (as duas entidades confundem-se). Mais: Xi lançou uma violenta campanha contra o que ele considera serem os excessos do capitalismo na vida económica da China.
Querendo marcar a diferença em relação ao capitalismo ocidental, com as suas desigualdades e injustiças, Xi Jinping passou a impor um colete de forças aos empresários, tomando medidas drásticas sem aviso prévio. O que não ajuda o crescimento económico chinês.
Muito graças à competência tecnológica que a China alcançou, o Estado e o partido vigiam e controlam a população chinesa de forma permanente e invasiva. A campanha lançada este ano por Xi Jinping contra os ricos e os famosos já está a ter reflexos na economia chinesa.
Para além do que esta situação representa em termos de direitos humanos, duvida-se de que a iniciativa empresarial chinesa neste quadro possa manter-se tão dinâmica como no passado. Está aí, com toda a probabilidade, o maior entrave à continuação do “milagre económico” chinês.