O presidente da Turquia, Tayyip Erdogan, disse este sábado que tinha pedido a Vladimir Putin para sair de cena na Síria, e deixar a Turquia tratar do assunto em Idlib, onde está em curso uma crise humanitária.
A Rússia continua a apoiar as forças sírias no seu esforço para tomar a última região no país ainda nas mãos de rebeldes antirregime, que por sua vez são apoiados pela Turquia.
Nos últimos dias a situação agravou-se, com um ataque sírio a matar dezenas de soldados turcos. A Turquia diz que nas últimas horas matou mais de 40 soldados do regime, entre militares das Forças Armadas da Síria e membros de milícias que apoiam o regime, como é o caso do Hezbollah, apoiado e financiado pelo Irão, outro aliado de Damasco.
Apesar do pedido de Erdogan, as probabilidades de a Rússia abandonar agora o regime sírio, perdendo assim a possibilidade de fazer render o tempo e esforço que tem investido no país, é praticamente nula.
Vladimir Putin insiste que está a apoiar Bashar al-Assad no combate ao terrorismo, apontando para as ligações entre os grupos rebeldes apoiados pela Turquia e organizações como a al-Qaeda e o Estado Islâmico. Mas Erdogan também reclama o direito de intervir no país.
“Não estamos lá a convite do Assad. Estamos lá a convite do povo Sírio e não fazemos tenções de sair antes de o povo nos dizer: ‘tudo bem, o trabalho está feito’”, afirmou Erdogan, em Istambul.
Rússia e Turquia têm levado a cabo conversações. Este sábado foi dito à imprensa que as duas partes tinham concordado em relação à necessidade de diminuir as tensões em Idlib, mas não existe qualquer proposta concreta nesse sentido.
Ao longo dos nove anos desta guerra civil, e sobretudo desde que começou a ter o apoio da Rússia, Bashar al-Assad tem conseguido recuperar todo o terreno que era ocupado pelos rebeldes. À medida que esses grupos eram cercados noutras cidades, a Turquia negociou a sua retirada para Idlib, no noroeste da Síria, junto à fronteira com a Turquia, até que esse se tornou o último reduto rebelde no país.
Os combates dos últimos dias têm-se centrado em Saraqeb, uma cidade que fica no cruzamento entre duas importantes autoestradas. A sua libertação por parte do regime implica a reabertura dessas duas vias de comunicação, que são muito importantes para o funcionamento da economia Síria. Saraqeb já tinha sido tomada pelo regime, mas foi reconquistada nos últimos dias e está agora a ser bombardeada por Sírios e russos.
Migrantes a caminho da Europa
A crise em Idlib levou a mais uma vaga de sírios que procuram abrigo na Turquia, onde já vivem cerca de três milhões de refugiados.
No que está a ser interpretado como uma tentativa de forçar o resto da Europa a apoiar a Turquia nesta sua incursão na Síria, Erdogan mandou abrir a fronteira entre o seu país e a Grécia e a Bulgária, levando dezenas de milhares de refugiados a encaminhar-se para o local para tentar entrar na União Europeia.
Contudo, tanto a Grécia como a Bulgária não abriram a fronteira do seu lado, deixando milhares de pessoas presas em terra de ninguém, uma vez que a Turquia também não os deixa regressar.
Sexta-feira e sábado as autoridades gregas dispararam gás lacrimogéneo contra refugiados e migrantes, muitos dos quais não são sírios, que tentavam passar a fronteira.
A Turquia queixa-se de lentidão por parte da União Europeia em pagar o que ficou acordado ao abrigo de um acordo em 2016, segundo o qual a Turquia manteria os refugiados dentro das suas fronteiras, sem os deixar passar para a União Europeia, a troco de verbas monetárias.
“Não vamos fechar as portas nos próximos tempos e isto vai continuar. Porquê? Porque a União Europeia tem de cumprir as suas promessas. Não temos de tomar conta destes refugiados todos e dar-lhes de comer”, afirmou Erdogan.